No Porto do Açu,projeto piloto usa resíduo de dragagem para produção de blocos de construção civil. Ideia é vender para terceiros — Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo
GERADO EM: 26/06/2024 - 04:00
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Construir de forma mais sustentável e barata é o que muitas famílias e empresas vêm buscando. E o uso de materiais que causam menos danos à natureza ou que aproveitem resíduos tem sido o caminho. Tijolos ecológicos e telhas feitas com materiais reciclados já são uma realidade em vários canteiros de obras. Além disso,empresas de diferentes setores transformam rejeitos em elementos da construção civil para reparos internos ou novos negócios.
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O tijolo ecológico é um dos produtos mais difundidos. É feito de uma mistura de 10% de cimento e 90% de solo e diferentes tipos de resíduos: de restos de obras a casca de arroz e garrafa PET. Além disso,é um produto feito a frio,sem queima como em uma olaria tradicional. Mas a característica determinante para a redução em até 30% no seu custo é o fato de as peças serem modulares. Assim,a construção vira uma montagem.
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Sem necessidade de estruturas de ferro,é mais adequado para edificações de até três pavimentos. Também reduz o uso de massa e permite que a tubulação passe por dentro dos blocos. Além disso,oferece proteção térmica e acústica.
Construtoras,pedreiros e até famílias estão entre os clientes da Eco Máquinas,que fica em Navegantes (SC) e desde 2003 já vendeu mais de 8 mil equipamentos para produção de tijolos ecológicos — boa parte para o exterior. Uma máquina capaz de produzir 2 mil tijolos por dia,além de canaleta e piso,sai por R$ 19 mil,enquanto uma fábrica completa para produção de 6 mil tijolos por dia custa R$ 500 mil.
— Tem gente que faz na garagem. Cada máquina vendida é uma empresa abrindo e a gente ensina tudo. Tijolo é uma necessidade básica. De 40% a 60% dos nossos clientes compram para construir casas para alugar ou vender — diz Mary Marques Festa,diretora comercial e fundadora da empresa juntamente com o marido. — O Brasil hoje é referência mundial em máquinas de tijolo ecológico e no seu uso na construção.
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Vegetais representam 50% do lixo produzido por cada família de La Pintana — Foto: JAVIER TORRES / AFP
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La Pintana foi uma das primeiras comunas de Santiago a coletar o lixo orgânico de seus habitantes — Foto: JAVIER TORRES / AFP
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Graças a este projeto,La Pintana recicla cerca de 20 toneladas por dia e economiza cerca de 100 mil dólares por ano — Foto: JAVIER TORRES / AFP
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Os catadores depositam os resíduos em usinas de floriculturas e de compostagem,onde são gerados os adubos utilizados na horta municipal. — Foto: JAVIER TORRES / AFP
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Há 13 anos,Tótti Oliveira,engenheiro civil e arquiteto da ArchFaz,que fica em Floresta (PR),trabalha com construções sustentáveis. Ele já entregou 160 casas em vários estados. Entre seus clientes,20% buscam uma habitação com custo mais baixo e entrega rápida,para sair do aluguel. O restante quer uma casa de veraneio com um conceito sustentável.
Uma residência de até 100 m2 leva de três a quatro meses para ficar pronta,e o metro quadrado varia de R$ 1.800 a R$ 2.100. Uma com o dobro do tamanho,mais elaborada,demora de seis a sete meses para ser construída a um custo de R$ 2.400 a R$ 2.600 por metro quadrado. Em ambos os casos,explica Tótti,o custo frente a uma construção convencional é até 30% menor.
— É preciso pensar no conjunto da obra. Cada metro quadrado de parede convencional finalizada de um quarto de 9 metros quadrados custa R$ 180. Com tijolo ecológico,sai a R$ 120,pois não precisa de estrutura,reduzindo o aço,o concreto e a mão de obra — explica Tótti.
Casa feita com tijolo ecológico,que tem só 10% de cimento — Foto: Divulgação/ArchFaz
Atenta à demanda por itens sustentáveis,a Leroy Merlin oferece desde 2017 telhas ecológicas feitas de materiais como caixas de leite e também de fibras orgânicas recicladas. Por serem mais leves,elas exigem menos madeira na instalação,o que pode compensar o custo mais alto frente ao material tradicional.
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O preço médio da telha de fibrocimento mais vendida no mercado varia entre R$ 46,90 e R$ 79,90. Já a telha reciclável custa entre R$ 79,90 e R$ 99,90,enquanto a de fibra vegetal sai por entre R$ 92,90 e R$ 109,90.
A varejista francesa vende também outros itens como blocos intertravados porosos — dispostos em calçadas,por exemplo,de modo que fiquem travados entre si — que permitem o escoamento de água para o solo,e pisos menos espessos,reduzindo a pegada ambiental via diminuição do uso de matéria-prima.
A venda de produtos sustentáveis na rede varia de acordo com a categoria,podendo chegar a entre 15% e 40% de participação. A empresa tem como estratégia elevar essa fatia a até 60% em até dois anos.
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Produzir insumos para a construção civil tem sido uma saída para a redução de resíduos em diferentes setores. Após sete anos de pesquisa,em 2021,a Vale começou a produzir areia sustentável a partir de rejeitos de suas operações de minério de ferro. Há 18 meses,a Vale criou uma empresa destinada a isso,a Agera,e o negócio ganhou escala.
Desde 2021,2,1 milhões de toneladas foram movimentadas por Vale e Agera. Hoje,100 mil toneladas são vendidas por mês e a expectativa é chegar a 2025 com capacidade de comercialização de 2,8 milhões de toneladas por ano.
Dez das 120 plantas da Supermix usam a areia sustentável da Agera. A empresa de concreto foi a primeira a usar o produto em escala industrial.
— O que nos motiva a buscar esse material é a questão econômica,porque há um ganho,é mais barato do que o material padrão,mas também tem a questão de usar um material ecologicamente melhor — explica Allyson Schiavinato,superintendente de Tecnologia Nacional da Supermix. — Não encaramos o produto como um rejeito,uma sobra da mineração,mas como um insumo sustentável da produção do concreto e para gente é uma matéria-prima como qualquer outro.
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E a transformação de resíduos em elementos da construção civil também é feita por outras empresas. Na Estação de Tratamento de Esgoto Ponte dos Leites,em Araruama (RJ),o Grupo Águas do Brasil transforma lodo em até mil tijolos e pisos intertravados por mês.
Os dois produtos são feitos em uma oficina própria da concessionária Águas de Juturnaíba e usados na recuperação do sistema de coleta de esgoto e na pavimentação das estações. Com isso,a empresa economiza R$ 50 mil por ano,levando em consideração que os resíduos não são encaminhados para o aterro sanitário.
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Já o Porto do Açu tem um projeto de utilização de resíduo de dragagem para produção de blocos de construção civil.
— Já temos testes da argamassa,o protótipo do bloco de encaixe pronto e estamos testando a execução do bloco intertravado. Agora,começaremos as próximas etapas no avanço do projeto de pesquisa,desenvolvimento e inovação — explica Juliane Carneiro,coordenadora de Inovação do Porto.
Os materiais desenvolvidos pelo projeto ainda estão na fase piloto. Os pedidos de patente estão sendo depositados e o objetivo é ter uma produção em escala para fomentar uma economia circular,de modo que a fabricação de blocos de encaixe,argamassa e intertravados possam efetivamente ser usados na construção civil.