Mulheres viajam pelo mundo em grupo — Foto: Divulgação
GERADO EM: 14/07/2024 - 04:30
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É a sororidade de malas feitas. Como forma de vencer o medo de lugares desconhecidos,estreitar e descobrir amizades,superar momentos difíceis ou até contornar a imobilidade do marido,mais mulheres optam por viajar em grupos só para o sexo feminino. A tendência já movimenta uma parte do mercado de agências de turismo.
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Segundo a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav),em 2023 houve um aumento de ao menos 20% no número de mulheres viajantes. A presidente do Conselho da Abav Nacional,Ana Carolina Medeiros,relaciona o crescimento ao maior número de mulheres independentes:
— Sempre existiu segmentações no turismo,como religioso,médico e o de idosos. O setor agora olha mais para as mulheres.
Foi o fim de um casamento de 32 anos que levou a professora Fernanda Rodrigues,de 56 anos,a buscar a NTour Viagens para Mulheres para uma primeira viagem. O destino foi Maceió,em 2023.
— Queria viajar,mas não sozinha. A experiência mudou minha vida. Além de superação,voltei com amigas de várias partes do Brasil,com quem continuo viajando — conta Fernanda,que repetiu a experiência em 2024,desta vez em Jericoacoara (CE).
As viagens ajudaram a dentista Oneide de Fátima Toniazzo,de 71 anos,a superar o momento mais difícil de sua vida. Divorciada,ela perdeu o filho de 29 anos em um acidente de carro em 2015. Encontrou na agência Mulheres pelo Mundo companhia nos passeios.
— Meu filho sempre gostou de viajar e busquei nelas uma forma de homenageá-lo. Se tornou uma maneira de sobreviver — conta Oneide,que já esteve em mais de 30 países.
O medo de viajar sozinha impedia a gerente de vendas Giselle da Silva,de 41 anos,de conhecer o Deserto do Atacama,no Chile. Em março,após uma viagem com seis desconhecidas pela Woman Trip,o sonho foi concretizado.
— O local tem uma energia incrível e todas nós nos demos muito bem. Mas o que mais me marcou foi o orgulho que senti por encarar meus medos — contou.
Segundo a psicóloga Kívia Rodrigues,a relação de amizade criada pelas viajantes em grupo pode ser tão importante quanto a experiência de conhecer novos lugares.
— É uma oportunidade para essas mulheres não apenas conhecerem o que está do lado de fora delas,mas também para se aproximarem mais de si mesmas — pondera.
A turismóloga Gilsimara Caresia,dona da agência GirlsGo,diz que viagens para esse nicho podem ser um pontapé para mulheres desbravarem novos destinos em voos solos.
— Muitas meninas que começam a viajar nos meus grupos tomam coragem para em um segundo momento irem sozinhas a algum lugar — conta Gilsimara,que abriu a agência em 2015 e organiza desde 2019 o Encontro Brasileiro de Mulheres Viajantes,em São Paulo.
Não são apenas mulheres solteiras que compõem os grupos. A empresária Maria Inez Oliveira de Souza Einsfeld,de 68 anos,casada há 36 anos,já viajou para a Índia pela GirlsGo e prepara as malas para uma viagem para o Marrocos em outubro.
— Meu marido avisou no início do casamento que não gostava de viajar. Mas eu sempre amei e não quis abrir mão. Já conheci pelo menos 25 países — contou Maria Inez,que fez quatro viagens só este ano e ainda pretende ir para a Itália e Grécia até dezembro.
Foi um incômodo pessoal que fez a psicóloga Cleonice Aparecida Franco a criar a primeira empresa especializada no segmento no Brasil,a Mulheres pelo Mundo. Cleonice sofria com a falta de companhia para viajar após se divorciar e viu o mesmo problema acontecer com outras mulheres.
A atual proprietária da agência,Fernanda D’Erasmo,confirma que,embora suas clientes sejam todas mulheres,não há um perfil padrão das viajantes. A diversidade reina nos motivos que levam à formação dos grupos femininos.
— Há quem busque por ter medo de viajar sozinha,por ter ficado viúva ou se separado,por incentivo dos filhos,por querer fazer novas amizades ou querer viver a experiência de viajar com pessoas desconhecidas — cita.
Grupo de mulheres em viagem pela Índia — Foto: Divulgação
A professora associada da Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense (UFF),Verônica Feder Mayer,aponta que essa forma de fazer turismo aumenta a segurança das mulheres,que correm mais risco que os homens em lugares que estão desbravando.
— Um grupo é uma rede de proteção — explica.
Dados de 2019 do ranking Women Danger Index,que analisa estatísticas de feminicídio,assédio,segurança e serviços,apontam o Brasil como o segundo país mais perigoso para mulheres viajarem sozinhas,perdendo só para a África do Sul. E um estudo da Money Transfer de 2023 mostra o Brasil como o terceiro destino mais perigoso,atrás da África do Sul e do Peru.
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A segurança é um dos benefícios apontados por Nicole Liberato Oliveira,de 28 anos,proprietária da Ntour,na hora de oferecer seus serviços. A empresa busca também estar rodeada de mulheres em seu staff,priorizando guias turísticas e motoristas do sexo feminino nos passeios.
— As mulheres se sentem naturalmente inseguras,e em lugares diferentes isso pode ser pior. A agência oferece o suporte de alguém que conhece os costumes e a cultura — diz Nicole.
Mulheres se reúnem em grupos para viajar — Foto: Divulgação
Companhia. A formação de grupos pode render amizades não só para aquele passeio,mas que podem seguir para outras excursões e pela vida.
Segurança. Viagens em grupo diminuem os perigos para as turistas,que passam a ter uma rede de apoio durante o passeio.
Orientação. Profissionais das empresas orientam as viajantes sobre as culturas e os costumes dos locais visitados.