Lula durante reunião do G20 no Rio de Janeiro — Foto: Ricardo Stuckert/PR
GERADO EM: 26/07/2024 - 08:38
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Conforme antecipei em meu blog no GLOBO,o governo Lula entende que a fase de reformas deste terceiro mandato se esgotou. No cômputo do que foi feito,além da reforma tributária,entra o novo arcabouço fiscal. No do que deixará de ser enfrentado,a ideia de revisitar as regras previdenciárias e uma batalha para reformar o Orçamento.
Segundo auxiliares de Lula,o caminho que o presidente vislumbra até 2026 tem como carro-chefe o crescimento acima de 2% nos quatro anos de gestão,acompanhado do aumento no emprego e na renda e de uma gestão fiscal suficiente para entregar a meta proposta. Será suficiente? No entendimento do Planalto,se a economia “chegar bem”,o presidente é favorito.
Também consideram nulas as possibilidades de Jair Bolsonaro rever sua inabilitação para concorrer em 2026,ainda que a direita se sagre vitoriosa nas urnas nas eleições municipais e que Donald Trump vença nos Estados Unidos,o que poderia levar um entusiasmo ao Q.G. bolsonarista. O fator eleições americanas é visto como pouco significativo para a sucessão por aqui,exatos dois anos depois.
O que,então,poderia atrapalhar o caminho traçado? Na avaliação do entorno lulista,o governo não pode errar com os evangélicos e precisa melhorar a avaliação junto a um segmento fundamental para a vitória de Lula,os jovens,que vêm demorando mais que outros a se reconectar com o presidente,de acordo com as pesquisas.
O que pesa para a baixa adesão dos jovens,no entendimento do Planalto,é o baixo desempenho das políticas de educação e emprego voltadas para essa faixa. Especificamente,a dificuldade do Ministério do Trabalho,sob o comando de Luiz Marinho,de lhes oferecer perspectivas e a demora do MEC em definir o novo ensino médio entram na conta do que o governo deve.
A percepção na cúpula do Executivo é que outro fio que aqui andava desencapado,as mulheres,começou a ser recomposto nos últimos levantamentos de avaliação do governo. A melhora é atribuída a fatores como queda na inflação de alimentos e programas voltados a microempreendedores,categoria em que as mulheres estão cada vez mais presentes.
Um calcanhar de aquiles permanente,sempre citado entre as preocupações do governo,é a comunicação. A mais recente queixa diz respeito à percepção,que vai se tornando generalizada,de que o governo aumentou a carga tributária. Integrantes do primeiro escalão dizem que passa batido nessa narrativa o fato de Lula ter ampliado a faixa de isenção do Imposto de Renda,que atinge uma fatia mais extensa da população do que as medidas pontuais de fim de benefícios e isenções a grupos de grande poder aquisitivo ou lobby.
O conjunto do road map para 2026,conforme enunciado nas conversas de bastidores,é,portanto,para lá de otimista,sobretudo quanto à possibilidade de a economia prosperar apenas com base nesse mínimo necessário para não estourar a meta fiscal,uma vez que as contas mostram que Haddad e companhia já caminham no limite de cima da margem de tolerância estabelecida por eles mesmos.
Também parece haver excesso de confiança na capacidade de aglutinação política de Lula,que se mostrou suficiente apenas para uma vitória estreita em 2022 e,desde então,não só não se expandiu,como sofreu retração.
Por fim,passar dois anos e meio sem reformas de impacto mostra uma estreiteza de projeto que impõe a questão sobre qual será o mote para buscar um novo mandato em 2026,num mundo em transformação cada vez mais rápida.
Nesse capítulo,aliados de Lula sacam a carta da transição energética e da liderança da economia verde,também usada há dois anos,mas até aqui sem grandes entregas,para além de certo greenwashing de um governo com cara de antigão.