María Corina Machado,em Mérida,na Venezuela — Foto: Divulgação
GERADO EM: 27/07/2024 - 04:30
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Apesar de não ser a candidata das eleições presidenciais deste domingo,a líder da oposição da Venezuela,María Corina Machado,é o principal rosto da campanha eleitoral que tenta desbancar o presidente Nicolás Maduro,no poder desde a morte de Hugo Chávez,em 2013. Velha conhecida da política venezuelana,a ex-deputada venceu por ampla margem as primárias da oposição celebradas em outubro do ano passado,mas não pôde registrar sua candidatura por estar inabilitada politicamente por 15 anos.
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Hoje com 56 anos,María Corina,que fundou em 2012 o partido Vem Venezuela,ficou conhecida por liderar a oposição mais linha-dura contra o então presidente Hugo Chávez. Nascida em Caracas,em uma família conservadora e católica fervorosa,seu apoio sempre foi limitado às classes mais altas do país e a parte dos venezuelanos no exílio. Mas hoje seus atos reúnem centenas de apoiadores das classes populares,inclusive nos redutos chavistas,longe da capital.
Luz Mely Reyes,veterana jornalista venezuelana e uma dos criadoras do Efecto Cocuyo,disse ao GLOBO no ano passado que vários fatores explicam o crescimento da ex-deputada,o que era impensável há alguns anos.
— O país está cansado do governo Maduro e,ao mesmo tempo,da incapacidade de liderança da oposição para conseguir mudanças. Tudo foi tentado,desde a via institucional,nas eleições de 2015,até o governo interino de Guaidó,em 2019. Isso,na minha perspectiva,tem fomentado um desejo de mudança geral. E María Corina Machado é vista como essa figura que pode impulsionar essa mudança — afirmou a jornalista na ocasião.
Engenheira industrial de formação,María Corina se destacou durante seu mandato,entre 2011 e 2014,como uma deputada combativa — e principalmente por suas críticas ferozes,tanto ao regime quanto à oposição. Uma das principais articuladoras das manifestações contra o governo de Maduro,em fevereiro de 2014,teve seu mandato cassado no mês seguinte pela Assembleia Nacional da Venezuela,comandada na época pelo chavista Diosdado Cabello,número dois do regime. Depois,em 2015,foi inabilitada politicamente e proibida de deixar o país.
Nos últimos anos,se opôs tanto ao autoproclamado governo interino de Juan Guaidó,que buscava o fim do chavismo pelo confronto,quanto ao setor moderado da oposição,que defendia a estratégia de retomar a via eleitoral para derrotar o governo nas urnas.
Seu nome,no entanto,se diluiu nos anos seguintes entre outros opositores. Em 2022,e após o fim do reconhecimento internacional de Guaidó,a "dama de ferro" voltou a atrair eleitores,desta vez lotando comícios em bairros mais pobres,ex-redutos chavistas.
Em junho do ano passado,sua inabilitação,que havia expirado em 2016,foi prorrogada para 15 anos,justamente quando sua campanha começava a deslanchar. A Controladoria,comandada pelo agora presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE),Elvis Amoroso,acusa agora a ex-deputada de corrupção e de promover sanções contra o país.
Por sua vez,a opositora acusou Maduro de descumprir o Acordo de Barbados,firmado em 2023,quando o governo anunciou uma data para as eleições de 2024,com a participação e observação de órgãos internacionais em troca da suspensão de algumas sanções impostas pelos EUA. No entanto,a decisão que desqualificou María Corina de se candidatar levou Washington a anunciar o restabelecimento das sanções.
(Colaborou Marina Gonçalves.)