O presidente dos EUA,Joe Biden,e a vice-presidente e candidata democrata à Casa Branca,Kamala Harris — Foto: Brendan SMIALOWSKI / AFP
GERADO EM: 19/08/2024 - 04:30
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Quando Joe Biden encerrar nesta segunda-feira o primeiro dia da Convenção Nacional Democrata,o presidente de 81 anos reencontrará um partido energizado pelas pesquisas que indicam caminhos,no plural,para a vitória em novembro. A ausência de seu nome na cédula,no entanto,é o aspecto mais gritante do principal desafio de uma festa inicialmente pensada para celebrar seus consequentes,porém impopulares,quatro anos à frente da Casa Branca. E que,desde sua decisão de abortar a reeleição,após enorme pressão interna,transformou-se em plataforma para a histórica confirmação de Kamala Harris,59,como a primeira negra e descendente de asiáticos candidata à Presidência dos Estados Unidos,e a de seu companheiro de chapa,o governador do Minnesota,Tim Walz,60.
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A tão pedida passagem geracional de bastão,do presidente para a vice por ele escolhida em 2020,quando os dois venceram nas urnas e no Colégio Eleitoral o ex-presidente Donald Trump,uma vez mais candidato do Partido Republicano,acontecerá,na prática,nesta quinta-feira,com o discurso em que Kamala se reapresentará aos americanos e aceitará tarefa e privilégio a ela concedidos pelos delegados do partido em inédita votação virtual,sem prévias.
Foram convocados para falar na convenção,entre outros medalhões,os ex-presidentes Bill Clinton e Barack Obama,e a ex-Secretária de Estado Hillary Clinton. O primeiro presidente negro dos EUA será “apresentado” à cidade onde iniciou sua trajetória política na terça-feira em aguardada fala da ex-primeira-dama Michelle. Não são poucos os veteranos de outros governos democratas a comparar o ânimo da militância e a generosidade dos doadores hoje com os da vitoriosa campanha de Obama em 2008. E Pesquisa Ipsos/Washington Post/ABC divulgada no domingo,com Kamala aumentando para quatro pontos percentuais sua vantagem para Trump,aumentou ainda mais a confiança no partido.
Os ex-presidentes dos EUA,Barack Obama e Bill Clinton,e a ex-candidata democrata à Casa Branca,Hillary Clinton — Foto: KENA BETANCUR / AFP
Ficou mais distante,crê o comando da campanha,a sombra da convenção democrata na cidade em 1968,marcada pela desistência de outro incumbente,Lyndon B. Johnson,e pela violência contra militantes contrários à Guerra do Vietnã. A prefeitura se diz preparada,a partir desta segunda,para receber,em espaços definidos,“dezenas de milhares de manifestantes”,especialmente os contrários ao apoio da Casa Branca a Israel no momento em que Gaza denuncia a morte de 40 mil pessoas desde o início do conflito iniciado com os atentados do Hamas.
O equilíbrio entre defender o que percebem ser êxitos do governo Biden — nas áreas social,ambiental e também econômica,apesar do aumento do custo de vida no contexto pós-pandêmico— e pintar um futuro menos apocalíptico do que o país invadido por perigosos imigrantes retratado pelos republicanos é objetivo central da convenção.
Esta segunda será o dia dedicado “aos cidadãos”,com discursos do presidente e da primeira-dama Jill Biden. No cardápio,uma “ode” ao homem que dedicou a vida ao serviço público. Sua saída de cena,após o fiasco do debate com Trump,será traduzida como ato de heroísmo de quem deixou em segundo plano,e para o bem do país,ambições pessoais.
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Detalhes divertidos foram pensados para contrabalançar inevitáveis constrangimentos dos que se movimentaram nos bastidores para a mudança de guarda,entre eles a ex-presidente da Câmara,Nancy Pelosi,escalada para falar na quarta,e o próprio Obama. Receberão uma caneca de café,que no inglês americano é conhecida como “a cup of Joe”.
Também fala nesta segunda a outra democrata que venceu Trump na urnas,Hillary,derrotada no Colégio Eleitoral em 2016 e entusiasmada apoiadora de Kamala,que deve traduzir a candidatura da ex-promotora como a continuação do que começou há oito anos.
Na terça-feira,“Uma visão ousada para o futuro dos EUA” prevê discurso principal de Obama. Na gramática particular da política americana,forjada pelo bipartidarismo,convenções são exercícios de contraste. O plano é opor os anos Obama-Biden aos Trump,marcados,na síntese democrata,por mais isenção de impostos aos ricos,achatamento da classe média e o rascunho para o implemento,se Kamala perder em novembro,do Projeto 2025,com medidas de extrema direita,entra elas a proibição total do direito ao aborto.
Quarta será o dia de Bill Clinton,cujo discurso na convenção de 2012 é lembrado como ponto alto da reeleição de Obama. Será secundado por Walz,recebido pela militância como o primeiro acerto da vice candidata. Ele é percebido como capaz de conquistar votos em zonas rurais de estados decisivos como a Pensilvânia,por onde a chapa circulou no domingo de ônibus.
Veteranos do partido,como Donna Brazile,lembravam no domingo que a última candidatura democrata a zanzar com tal desenvoltura pelos rincões do país foi a do sulista Clinton,há três décadas. Há,por isso,expectativa ainda maior pelo discurso de encerramento. Espera-se que Kamala consiga algo que Trump até ensaiou fazer,mas foi incapaz de oferecer aos americanos no fecho da convenção republicana,cinco dias após ser alvejado — convocar uma união nacional para futuro menos polarizado. Senha,apostam estrategistas,para a vitória em novembro.