Harpa — Foto: Pixabay
GERADO EM: 22/08/2024 - 04:31
O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
LEIA AQUI
No terraço da casa do baterista,compositor e cantor Wilson das Neves,na Ilha do Governador,ficava a coleção de cactos trazida de suas andanças pelo mundo. Tinha planta do Japão,do Chile,da Espanha,do Sertão. Muitos vieram enrolados dentro de sua mala. Ele adorava as plantas e passava horas junto delas. Antes de morrer,em agosto de 2017,aos 81 anos,avisou que os cactos não poderiam ser vendidos,porque eram seres vivos,e que ele gostaria que todos seguissem juntos num mesmo lugar. Amigos da família,os músicos Cristina Braga e Ricardo Medeiros acolheram as mais de 50 espécies que deram origem ao Cactário Wilson das Neves,um dos 29 espaços de inspiração do Uaná Etê,o Jardim Ecológico em Engenheiro Paulo de Frontin,onde dia 10 de agosto aconteceu o concerto com as 50 harpas mágicas.
Depois de alguns dias de seca,choveu quase 12 horas ininterruptas antes do concerto. Um aviso na conta do Instragram @uanaete na manhã de sábado confirmava o evento para 17h daquele dia. Apesar de ter viajado mais de seis horas de carro para a apresentação,duvidei.
Fui de capa impermeável e guarda-chuvas. Subi a espiral que passa pela coleção de plantas espinhosas e suculentas do baterista favorito do Chico Buarque,toquei os sinos de tamanhos e formas diversas do jardim dos sinos,fiz foto ao lado das imensas asas do designer Rafael Maia em homenagem ao carcará e conheci o jacarandá da Bahia que foi curado por uma drusa de ametista. Isso mesmo. O jardim bem ao lado do Cactário do Wilson das Neves é de cristais. O jacarandá estava com uma ferida exposta e morrendo quando recebeu a drusa de ametista que está lá até hoje e foi curado. E virou um dos pontos do círculo que tem quartzo,critrino,fuchsita,apofilita,turmalina,jaspe,berilo,topázio e muitas outras pedras imensas e lindas com placas explicativas ao lado. Tem também um banco pra alinhar os chacras e ver a floresta. Os cristais são uma das tantas homenagens à música do Uaná Etê,que quer dizer jardim cheio de vagalumes na língua dos povos da floresta. Eles são instrumentos musicais de frequência regulares e os únicos que conseguem comunicar ritmo aos circuitos eletrônicos. Não por acaso estão em celulares e computadores.
Perto das 17h,nos sentamos sobre uma esteira de palha em frente ao palco do Anfiteatro de Pedra e testemunhamos a chuva parar,o céu abrir num pôr do sol inacreditável para ouvir as 1500 cordas dos 51 instrumentos milenares tocarem. Nunca vou esquecer. Ao lado de sua harpa prateada gigante,vestida de branco,Cristina Braga e seus cabelos longos cor de fogo abriu a festa. Os músicos,regidos por Ricardo Medeiros,também de branco,fizeram uma rápida coreografia sobre a história do instrumento e começaram a tocar. Chorei,ri,dancei,confraternizei com os presentes que incluíam muitos pais,avós,tios e irmãos da dezena de alunos da rede pública de Vassouras e Barra Mansa que tocaram suas harpas ao lado de Cris,Claudia Miranda e harpistas de sete países diferentes.
A noite caiu,o frio chegou,mas as cordas das harpas me mantiveram alerta ao poder da música e como ela nos traz beleza,conexão e presença. Foi lindo ver os harpaterapeutas Christina Tourin e Ludwig Conistabile celebrarem a harmonia e o bem-estar com peças para elevar qualquer humor. Rafael Deboleto mostrou a graça e a irreverência da harpa brasileira e Antonia Medeiros,afinada,linda e divertida cantou o sonho de ver todas as mulheres respeitadas. Teve temas do Harry Potter,de Game of Thrones (com direito a bis),Mario Bros,Tetris e o espetáculo acabou com a canção que abre os filmes da série Star Wars,com as 51 harpas acompanhando o maravilhoso flautista Paulo Brasileiro. E nem a sopa de batata baroa quentinha,servida depois do espetáculo,me fez descer das nuvens.