Caio Blat em 'O diabo na rua no meio do redemunho',novo filme de Bia Lessa — Foto: Divulgação
GERADO EM: 22/08/2024 - 03:31
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Prezado espectador: respire,mire,veja,escute,aprecie,deixe o arrepio correr solto diante da ousada adaptação de Bia Lessa de “Grande Sertão: Veredas”. Neste o longa,a gigante artista multimidia fecha trilogia sobre Guimarães Rosa,primeiro com exposição e depois no teatro,embrião de vigorosa travessia para a tela.
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Na guerra,nas artes e no amor não há regras — apenas o desejo imperioso de conquistar. Fiel a esta falta,Bia Lessa se serve de um cenário escuro,sem fim ou começo,palco da busca do jagunço Riobaldo pelo entendimento de seu passado,escolhas,de si mesmo e,sobretudo,de como deixou a felicidade,ao alcance da mão,escapar sertão adentro.
Naquela “vastidão” de raríssimos adereços,a câmera rodopia em torno de coreografias de procissões,julgamentos políticos,revoada de pássaros,gritos de animais,vegetação ao vento,amor,sexo. Personagens multiplicam-se e dividem-se,lutam,morrem,fogem,sob ponto de vista único de Riobaldo – próximo da velhice. Ele abre mão da cronologia,mas não da dúvida ancestral,quando rompe a quarta parede e indaga: “o demo existe?
Bia Lessa comanda um bando de técnicos excepcionais — fotografia,montagem,ruídos,trilha. Naquele terreno árido,brilham Caio Blat (Riobaldo),Luiza Lemmertz (Diadorim),Luisa Arraes (Nhorinhá e Riobaldo jovem),Leonardo Miggiorin (Zé Bebelo),entre tantos outros misturados a corpos de pano unidos pelo pacto de vida ou morte. O que fica? As palavras,ditas ao longo desta Guernica sertaneja atemporal e universal. E a constatação de que as desgraças das guerras continuam as mesmas — sempre e em todo lugar.
Bonequinho aplaude de pé.