Trabalhadora na forja da empresa Ukrzaliznytsia (Ferrovias Ucranianas) em Kharkiv,Ucrânia — Foto: Finbarr O'Reilly/The New York Times
GERADO EM: 28/08/2024 - 04:31
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Em uma manhã recente no leste da Ucrânia,Karina Yatsina,uma trabalhadora de mina,estava ocupada operando uma correia transportadora em um túnel escuro de 350 metros de profundidade. Luzes piscavam no final do poço,iluminando os mineiros que esculpiam as camadas de carvão. Há um ano e meio,Karina,21 anos,estava trabalhando como babá. Então,amigos lhe disseram que uma mina na cidade de Pavlohrad,no leste do país,estava contratando mulheres para substituir os homens convocados para as Forças Armadas. O salário era bom e a pensão generosa. Não demorou muito para que Karina estivesse caminhando pelo labirinto de túneis da mina,com uma lanterna de cabeça presa ao seu capacete vermelho.
— Eu nunca imaginaria que estaria trabalhando em uma mina — disse Karina,fazendo uma pequena pausa no calor sufocante do túnel. — Eu nunca teria imaginado isso.
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Karina é uma das 130 mulheres que começaram a trabalhar no subsolo da mina desde que a invasão em grande escala da Rússia na Ucrânia começou,em fevereiro de 2022. Elas agora operam transportadores que levam o carvão para a superfície,trabalham como inspetoras de segurança ou dirigem os trens que conectam as diferentes partes da mina.
— A ajuda delas é enorme porque muitos homens foram lutar e não estão mais disponíveis — disse Serhiy Faraonov,vice-diretor da mina,que é administrada pela DTEK,a maior empresa privada de energia da Ucrânia.
Cerca de mil trabalhadores homens na mina foram convocados,disse ele,ou cerca de um quinto da força de trabalho total. Para ajudar a compensar a escassez,a mina contratou cerca de 330 mulheres.
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Trabalhadora na forja da Ukrzaliznytsia (Ferrovias Ucranianas) em Kharkiv,Ucrânia
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Karina Yatsina,operadora de máquina subterrânea em seu quinto dia de trabalho em uma mina de carvão perto da cidade de Pavlograd,na região de Dnipro,no leste da Ucrânia — Foto: Finbarr O'Reilly/The New York Times
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Uma geóloga espera com seus colegas para pegar um elevador de volta à superfície de uma mina perto da cidade de Pokrovsk,na região de Donetsk,no leste da Ucrânia — Foto: Finbarr O'Reilly/The New York Times
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Mulheres participam de uma sessão de treinamento em uma instalação projetada para reproduzir um poço de mina,perto da cidade de Pokrovsk,no leste da Ucrânia — Foto: Finbarr O'Reilly/The New York Times
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Valentyna Korotaeva opera um guindaste em uma mina de carvão administrada pela siderúrgica Metinvest perto da cidade de Pokrovsk,no leste da Ucrânia — Foto: Finbarr O'Reilly/The New York Times
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Natalia Kharchenko,operadora de máquinas,trabalha em um pátio de manutenção da empresa Ukrzaliznytsia (Ferrovias Ucranianas) em Kharkiv,Ucrânia — Foto: Finbarr O'Reilly/The New York Times
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Olena Richko recebe aulas para se tornar motorista de caminhão,em Kiev,capital da Ucrânia — Foto: Finbarr O'Reilly/The New York Times
Em mercado dominado por presença masculina,mão de obra feminina é "convocada" para salvar economia
Elas fazem parte de uma tendência mais ampla na Ucrânia,onde as mulheres estão cada vez mais assumindo empregos há muito tempo dominados pelos homens,à medida que a mobilização generalizada de soldados esgota a força de trabalho dominada pelos homens. Elas se tornaram motoristas de caminhão ou ônibus,soldadoras em fábricas de aço e trabalhadoras de armazéns. Milhares de mulheres também se alistaram voluntariamente no exército. Ao fazer isso,essas mulheres estão remodelando a força de trabalho tradicionalmente dominada pelos homens na Ucrânia,que,segundo especialistas,há muito tempo é marcada por preconceitos herdados da União Soviética.
— Havia essa percepção de que as mulheres eram trabalhadoras de segunda classe e menos confiáveis — disse Hlib Vyshlinsky,diretor executivo do Center for Economic Strategy,com sede em Kiev,na Ucrânia.
Vyshlinsky disse que as mulheres ucranianas há muito tempo eram excluídas de certos empregos,não apenas por causa das exigências físicas,mas também porque essas funções eram consideradas "muito complicadas" para elas. As mulheres,segundo ele,podiam dirigir trólebus,mas não trens.
— Havia muitos estereótipos — disse Vyshlinsky.
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O atual influxo de mulheres no mercado de trabalho ucraniano tem ecos das munitionettes,as mulheres britânicas que trabalharam em fábricas de armas durante a Primeira Guerra Mundial,e das mulheres — eternizadas nos icônicos pôsteres de Rosie the Riveter — que ingressaram na força laboral dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.
Mas,mesmo com o influxo de mulheres na força de trabalho,elas não serão suficientes para substituir todos os trabalhadores do sexo masculino que foram embora,dizem os economistas. Três quartos dos empregadores ucranianos sofreram escassez de mão de obra,segundo uma pesquisa recente.
Antes da guerra,47% das mulheres ucranianas trabalhavam,de acordo com o Banco Mundial. Desde então,cerca de 1,5 milhão de trabalhadoras,aproximadamente 13% do total,deixaram a Ucrânia,disse Vyshlinsky:
— A parcela de mulheres que trabalham atualmente na Ucrânia é maior do que antes da guerra. Mas muitas deixaram a Ucrânia para permitir que o país supere a escassez de mão de obra.
O fenômeno da entrada de mulheres na força de trabalho tem sido particularmente evidente no setor de mineração. Após a invasão da Rússia em 2022,o governo ucraniano suspendeu uma lei que impedia as mulheres de trabalhar no subsolo e em condições “prejudiciais ou perigosas”. Agora,elas são uma presença regular nos poços de elevação apertados que levam os trabalhadores às profundezas das minas.
— Fiquei surpreso. É incomum ver uma mulher com uma pá fazendo o trabalho de um homem — disse Dmytro Tobalov,um mineiro de 28 anos,pouco depois de uma mulher passar por ele e por outros mineiros corpulentos que estavam descansando em bancos em um túnel,esperando para embarcar no elevador de volta para fora da mina.
Tobalov,que trabalha em uma mina em Pokrovsk,na região oriental de Donetsk,disse que 12 homens deixaram seu grupo de mineiros para o exército,substituídos por 10 homens e duas mulheres.
— Elas estão se saindo muito bem — disse ele sobre as mulheres.
Várias mulheres disseram que se juntaram à mina de Pokrovsk,de propriedade da Metinvest,a maior siderúrgica da Ucrânia,porque ela oferecia empregos estáveis em uma economia devastada pela guerra. Valentyna Korotaeva,30 anos,ex-assistente de loja em Pokrovsk,disse que perdeu o emprego depois que um míssil russo aterrissou perto da loja,fazendo com que os proprietários fizessem as malas e fossem embora. Agora ela trabalha como operadora de guindaste na mina,movendo grandes máquinas de metal que estão sendo consertadas em um depósito.
O tempo que Korotaeva conseguirá manter seu emprego dependerá da situação na linha de frente,a apenas 13 quilômetros da mina. As forças russas têm se aproximado cada vez mais de Pokrovsk nas últimas semanas. A Rússia frequentemente bombardeia a área,e a gerência da mina preparou planos de evacuação caso se torne muito perigoso permanecer no local.
Yulia Koba,uma antiga psicóloga infantil que se juntou à mina de Pokrovsk em Junho como operadora de correia transportadora,descreveu-o como um esforço multifacetado,com as mulheres na retaguarda apoiando os homens na frente.
— Eles estão lá e nós estamos aqui — disse ela.
Yulia disse que os colegas do sexo masculino ficaram céticos quando ela assumiu seu novo cargo,com alguns acreditando que as mulheres não tinham lugar nos túneis escuros e empoeirados da mina. "O que você está fazendo? Por que você está aqui e não em algum lugar acima do solo?” ela disse que foi questionada. Mas com o tempo,acrescentou Koba,os homens superaram gradualmente os estereótipos de gênero e compreenderam que as mulheres podiam fazer o trabalho tão bem como os homens.
— Se as mulheres vão servir nas forças armadas,porque não podem assumir posições tradicionalmente masculinas nas minas? — disse Yulia.
As empresas também tentaram trazer mais mulheres para o mercado de trabalho através de programas de formação. A mina Pokrovsk iniciou um programa no início deste ano que até agora permitiu que 32 mulheres trabalhassem no subsolo. A Reskilling Ukraine,uma organização sueca sem fins lucrativos,ofereceu cursos de formação acelerada para mulheres que desejam tornar-se motoristas de camiões. Mais de 1.000 mulheres candidataram-se este ano,mas a organização tem fundos para formar apenas 350,disse Oleksandra Panasiuk,coordenadora do programa.
— Muitas mulheres queriam ser motoristas,mas,durante muito tempo,a sociedade não permitiu que fizessem isso — disse Oleksandra. — Isso está mudando.
Na mina Pavlohrad,várias mulheres contratadas durante a guerra esperam agora fazer carreira e subir na hierarquia. Karina,a ex-babá que agora é operadora de correia transportadora,disse que gostaria de se tornar técnica eletromecânica.
— Já pensei sobre isso — disse ela,com um leve sorriso surgindo em seu rosto jovem. — Eu gosto daqui.