Ex-refém do Hamas,Qadi Farhan al-Qadi (C),chega à vila de Kherbet Karkour,em Israel,após libertação em Gaza — Foto: Menahem KAHANA / AFP
GERADO EM: 29/08/2024 - 04:31
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Um refém israelense,de religião muçulmana,foi resgatado na Faixa de Gaza. Não estão claras as circunstâncias da libertação. Mas é certo que Farhan al-Qadi foi mantido quase onze meses como prisioneiro do Hamas e,ao ser libertado,demonstrou se sentir israelense. Basta ver algumas de suas declarações,como ao dizer que,independentemente de serem “judeus ou árabes (cristãos e muçulmanos),há famílias esperando a libertação deles (dos reféns israelenses)”. Essa declaração chama a atenção porque demonstra que o Estado israelense é algo maior do que apenas um Estado judaico. Afinal,existe uma noção de que somente judeus são israelenses. Essa não é a realidade.
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Na verdade,20% da população de Israel seguem outra religião,sendo a imensa maioria muçulmana sunita,com minorias drusa e cristãs de diferentes denominações. A maior parte ainda se identifica com os palestinos,tendo uma espécie de dupla identidade. Isto é,sentem que são parte do Estado de Israel e falam hebraico. Por outro lado,mantêm um sentimento de que integram uma nação palestina e ainda usam o árabe como primeira língua no dia a dia. Uma parcela menor,especialmente no caso dos drusos,considera-se apenas israelense.
Khaled Kabub,por exemplo,é muçulmano e juiz da Suprema Corte de Israel. A reitora da Universidade de Haifa se chama Mouna Maroun,uma cristã israelense de origem palestina. Na medicina,há uma tradição de médicos árabes-israelenses nos hospitais de Israel. Shaden Salameh,também palestina e cidadã israelense,dirige o Hospital Hadassah,considerado o melhor de Jerusalém. Há nomes de sucesso de árabes em Israel nas mais variadas profissões,como a atriz Hiam Abbas,o banqueiro Samer Haj Yehia e a âncora de TV Lucy Aharish.
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Apesar dessas histórias,há ainda um longo caminho a ser percorrido. Segundo a Agência Central de Estatísticas de Israel,os cidadãos árabes-israelenses têm uma taxa de desemprego maior,salários inferiores e perspectiva de vida menor do que as dos judeus israelenses. Já a mortalidade infantil é maior. Também persistem reclamações de que os árabes seriam tratados como cidadãos de segunda classe. Até hoje,a maior parte dos palestinos cidadãos de Israel vota em partidos nacionalistas árabes ou de viés conservador islâmico.
O atentado do Hamas foi um divisor de águas para esses árabes-israelenses,já que o grupo não diferenciou judeus de muçulmanos ou cristãos cidadãos de Israel quando cometeu o ataque de 7 de outubro. Os árabes-israelenses,como o último refém libertado,também foram vítimas. Muitos foram mortos e capturados. Pesquisas indicam um aumento de pertencimento dos palestinos cidadãos de Israel à sociedade israelense após o ataque do Hamas. Ao mesmo tempo,eles se solidarizam com as dezenas de milhares de civis palestinos mortos pela resposta militar de Israel ao atentado.
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Muitos árabes-israelenses prefeririam permanecer como cidadãos de Israel,uma nação de primeiro mundo,comoportunidades de educação e de emprego. Mas defendem a criação do Estado palestino nos territórios ocupados. Sabem que os civis da Cisjordânia e de Gaza precisam de uma nação independente ou da cidadania israelense em vez de viverem sob ocupação. O status quo é inaceitável. Embora falar de acordo de paz seja uma utopia no momento atual,o papel dos árabes-israelenses será fundamental para uma solução pacífica entre os dois lados,se e quando isso ocorrer