Debate entre os candidatos a prefeitura de São Paulo,Guilherme Boulos ( PSOL ) e Ricardo Nunes ( MDB ) na TV Band — Foto: Foto Edilson Dantas
GERADO EM: 17/10/2024 - 03:30
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Depois de um primeiro turno marcado por episódios de ampla repercussão,incluindo ataques e baixarias,o segundo turno da eleição de São Paulo mobiliza menos atenção nas redes e na TV. Um parâmetro é o debate da Band com Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL),realizado na segunda-feira,que teve um quinto das interações digitais do que o gerado pelo encontro exibido pela mesma emissora em 8 de agosto,antes do início oficial da campanha.
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Muito da mudança é resultado da ausência de Pablo Marçal (PRTB),candidato que concentrou 78% das interações registradas por todos os postulantes às prefeituras das capitais brasileiras,segundo relatório da consultoria Bites. Com uma lógica de influenciador aplicada ao processo eleitoral e “cortes” que viralizaram,ele promoveu o que especialistas consideram um uso até então inédito das redes durante a campanha.
Ainda segundo a Bites,Marçal fez 108 publicações,ganhou 28 mil novos seguidores e alcançou 11,2 milhões de interações após o primeiro turno,mesmo tendo ficado em terceiro lugar na disputa. É bem mais do que Nunes e Boulos — sobretudo nas interações,com 5,5 milhões do psolista e 580 mil do prefeito.
Embate nas redes — Foto: Editoria de arte
Os dados foram antecipados pelo colunista do GLOBO Lauro Jardim.
— Marçal conseguiu se transformar no assunto da eleição,foi a grande novidade do primeiro turno. Além disso,foi uma disputa muito fragmentada,com uma indefinição que aumentava a audiência. Agora parece já estar definida,tanto que o apagão virou o grande assunto e a única chance de mudar o jogo — avalia o cientista político Marco Antonio Teixeira,professor da FGV EAESP.
Durante a maior parte da campanha,as pesquisas apontaram um cenário de empate triplo na eleição da capital de São Paulo,tendência que se confirmou nas urnas,com diferença apertada — 29,48% de Nunes,29,07% de Boulos e 28,14% de Marçal.
Sem o ex-coach e com esse cenário,em tese,mais consolidado,o debate desta semana movimentou 21 mil menções no X ao longo do dia em que foi realizado e 50,9 mil na data seguinte à transmissão,também de acordo com a Bites. Enquanto isso,o do primeiro turno,que tradicionalmente abre as eleições em todo o país,gerou um pico de 240,5 mil menções na mesma rede em 9 de agosto.
A Bites ressalta que o volume de menções teve uma alta em relação aos debates em que o X estava bloqueado,dada a relevância da plataforma de Elon Musk no debate político. Por outro lado,o nível de engajamento,que costuma ser maior no Instagram,foi menor na segunda-feira (899,5 mil interações) e na terça-feira (559,6 mil) do que nos demais debates.
“Está muito longe das interações alcançadas em contas relevantes no Instagram em outros debates,mesmo durante o bloqueio do X,com destaque para o debate da Cultura,da cadeirada de Datena”,explica o relatório.
O debate da TV Globo,por exemplo,teve mais de 1,8 milhão de interações quando se consideram o dia do debate e o seguinte; o dos Estúdios Flow,marcado pelo soco de um assessor de Marçal no marqueteiro de Nunes,1,7 milhão; o da Folha de S. Paulo,1 milhão; e o da TV Cultura,marcado pela cadeirada de Datena em Marçal,uma soma de 8,6 milhões em dois dias.
— A comparação que é mais própria,que fica mais óbvia,é a comparação do debate da Band do primeiro turno com o debate de agora,porque aquele ainda foi prévio ao bloqueio do X — explica o diretor técnico da Bites,André Eler. — Então,realmente foi um debate (do segundo turno) com bem menos influência,embora seja muito difícil medir exatamente a comparação com todos os outros por causa do bloqueio do X.
Além da agressão na TV Cultura,outros casos nos debates paulistanos ajudaram a impulsionar a repercussão. Em um deles,Marçal levou uma carteira de trabalho e provocou Boulos,ao dizer que o rival não sabia o que era. A investida motivou um tapa do candidato do PSOL no documento para tentar derrubá-lo. E Datena,antes da cadeirada em Marçal,já havia ameaçado atacá-lo fisicamente. Também houve ataques verbais entre diversos postulantes,matéria-prima para os cortes de vídeo publicados nas redes.
Os dados do Kantar Ibope sobre a audiência do debate em si também ilustram a queda no interesse dos espectadores. Foram 2,4 pontos,contra 3,6 no primeiro turno,evento que marcou a estreia de Marçal em encontros televisivos. Hoje,às 10h20m,Nunes e Boulos se encontram novamente na RedeTV,em debate feito em parceria com o jornal “Folha de S.Paulo” e o portal UOL.
Líder nas pesquisas de segundo turno — na Quaest de ontem,tem 45%,contra 33% de Boulos —,Nunes acaba beneficiado pelo cenário. Afinal,o objetivo de quem lidera as intenções de voto numa eleição,mais do que ganhar,é não perdê-los.
— Nunes pode jogar parado. Se não fosse o apagão,talvez ele estivesse até se expondo menos — observa Marco Antonio Teixeira.
O prefeito limitou a presença em debates neste segundo turno,depois de uma maratona de encontros no primeiro. Nunca na história das eleições da maior cidade do país um candidato que começou a etapa final em desvantagem conseguiu reverter o resultado. Boulos largou com a maior diferença em 24 anos no Datafolha.
A falta de luz que ainda atinge milhares de pessoas na cidade é o grande tema do segundo turno. Na Band,Nunes e Boulos passaram os primeiros 25 minutos do debate falando sobre a crise — com visões distintas sobre os culpados.
Consenso entre os dois,só o fato de que a Enel deveria parar de atuar em São Paulo,por causa do tamanho e da reincidência do problema. Nunes,no entanto,culpa o governo federal,que autoriza a concessão,enquanto Boulos afirma que a prefeitura não fez o devido trabalho de zeladoria urbana para apaziguar os efeitos das chuvas na falta de energia.
Apesar de alguns ataques duros no âmbito desse e de outros temas,o debate foi mais civilizado do que os do primeiro turno. Em dado momento,os dois chegaram até a se abraçar durante uma interação.
(*estagiário sob supervisão de Cibelle Brito)