Vacina contra Covid-19 — Foto: Agência O Globo / Márcia Foletto
GERADO EM: 11/11/2024 - 19:06
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Em novembro completam-se 120 anos da Revolta da Vacina,rebelião popular contra a lei que determinava a obrigatoriedade de imunização contra a varíola,doença que matou 3.500 pessoas numa epidemia na cidade do Rio de Janeiro. Na época,havia um complexo panorama social e político no país,e diferentes fatores ajudaram a inflamar a população.
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De lá para cá,muita coisa mudou. Houve evolução na saúde pública,e o Brasil construiu e consolidou o Programa Nacional de Imunizações (PNI),reconhecidamente um dos melhores do mundo. Sem falar no SUS,nosso sistema universal de saúde.
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Certa vez ouvi de um professor do ensino médio que a História é cíclica,os fatos se repetem de tempos em tempos. Curioso perceber os ciclos na saúde pública. Fomos assolados recentemente por uma pandemia,de Covid-19,que deixou 38 mil mortos na cidade desde 2020. Tanto quanto em 1904,a doença chegou quando havia um complexo panorama social e político no país e,mais uma vez,diferentes fatores ajudaram a inflamar parte da população contra o mais importante instrumento para salvar vidas,a vacina. Desta vez,não houve quebra-quebra,mas uma ferrenha campanha contrária à vacinação.
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A coincidência dos dois momentos históricos distantes mais de cem anos é muito triste para a saúde pública e para o legado de Oswaldo Cruz. Infelizmente,o negacionismo absurdo e irresponsável pôs em xeque o trabalho sério de décadas do PNI e de gerações de sanitaristas brasileiros,causando enorme retrocesso. Foram diversas doenças erradicadas pelas vacinas oferecidas pelo SUS,campanhas de sucesso para a imunização em massa das crianças,e tudo isso ficou encoberto pela cortina de fumaça das fake news. Os ataques miraram a vacina da Covid-19,mas o prejuízo causado se refletiu em todo o calendário de imunização.
É verdade que,desde 2016,as coberturas vacinais já vinham caindo no Brasil,e não podemos deixar de considerar o próprio sucesso do PNI como uma das causas. O último registro de poliomielite no país foi em 1989. Da rubéola,em 2008. No passado,as famílias conheciam a gravidade dessas doenças e corriam para vacinar seus filhos. Quando,devido à imunização,o cenário deixa de assustar,é preciso conscientizar sobre a importância das vacinas as mães e os pais que nunca viram casos dessas doenças. Um trabalho árduo dos profissionais de saúde,ainda mais com a campanha antivacina se espalhando.
No Rio,trabalhamos no resgate das coberturas vacinais. Além das 239 salas de imunização pela cidade,inauguramos duas unidades do Super Centro Carioca de Vacinação,em Botafogo e Campo Grande,que funcionam de domingo a domingo. Também lançamos o Geovacina,para localizar e ir até as crianças com doses atrasadas,e realizamos o Programa Vacina na Escola,que levou imunização às escolas e creches.
Vacinação é um pacto social. O SUS faz sua parte,e é preciso que a população abrace a causa. É hora de colocarmos fim na campanha negacionista e fazermos a revolta não “da”,mas “pela” vacina. Pelas vacinas!
*Daniel Soranz é secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro