No Rio,uma loja da rede Carrefour,cujos supermercados no Brasil voltaram a ser abastecidos pelos frigoríficos nacionais após crise — Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
GERADO EM: 26/11/2024 - 21:20
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O Ministério da Agricultura recebeu ontem uma carta,encaminhada formalmente,com um pedido de desculpa do CEO do grupo francês Carrefour,Alexandre Bompard,ao Brasil. Segundo o governo,a retratação do executivo marca um “retorno à normalidade”,e os frigoríficos brasileiros que tinham suspendido o fornecimento ao Carrefour no Brasil voltaram a abastecer a rede.
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Bompard foi responsável por uma crise ao afirmar,na semana passada,que a rede não compraria mais carne do Mercosul em apoio a agricultores franceses que são contra um acordo com a União Europeia (UE).
Em meio à tensão,representantes dos blocos sul-americano e europeu estão reunidos em Brasília até o fim da semana buscando um entendimento. O governo brasileiro confia que um acordo será anunciado na reunião de cúpula do Mercosul em 5 e 6 de dezembro,em Montevidéu.
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Na carta enviada ao governo,Bompard disse que “o Carrefour é o primeiro parceiro da agricultura francesa: compramos quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades na França,e assim seguiremos fazendo. (...) Do outro lado do Atlântico,no Brasil,compramos dos produtores brasileiros quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades,e seguiremos fazendo assim”.
O executivo se retratou dos ataques que fez à produção nacional e afirmou que “a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade,respeito às normas e sabor”. E tentou se justificar dizendo que “se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela,pedimos desculpa”.
Após a retratação,representantes dos setores de carne bovina,aves e suínos liberaram os associados a retomarem o fornecimento à rede francesa no Brasil,que começou a ser interrompido na quinta-feira passada em represália às declarações do CEO. Em nota,a Associação Brasileira dos Exportadores de Carne (Abiec) — que liderou a reação do agronegócio brasileiro ao Carrefour — disse ter recebido “com satisfação o pedido de desculpas e o reconhecimento da excelência do produto e do produtor brasileiro”.
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Segundo fontes ouvidas pela coluna Capital,a JBS,dona da marca Friboi e principal fornecedora de carne para o Carrefour,foi uma das primeiras empresas a retomar as entregas.
Em entrevista à Globonews,o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA),Ricardo Santin,disse que o fornecimento de aves e suínos também seria retomado:
— Creio que,esclarecido esse ponto e pedindo as desculpas devidas ao ministro (da Agricultura),a gente vai retomar (o fornecimento),no caso das aves e suínos,garantindo o produto nas gôndolas para o Natal.
Em Brasília,começou ontem aquela que poderá ser a última e decisiva rodada de reuniões entre Mercosul e União Europeia para um acordo. A tendência é que os encontros durem até sexta-feira.
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O clima entre os diplomatas brasileiros é de otimismo. Eles acreditam que o acordo pode ser anunciado oficialmente na reunião do Mercosul na semana que vem,na capital uruguaia,com a presença de Ursula Von der Leyen,a presidente da Comissão Europeia (CE,o braço executivo da UE).
A chefe da Comissão Europeia é a favor do acordo,que também tem o apoio da maior economia do continente,a Alemanha. Espanha,Portugal e boa parte das nações do Leste Europeu também são abertamente a favor. Ainda não está claro quais outros países tenderiam ao “sim” se houver avanço nas negociações desta semana.
O presidente francês Emmanuel Macron já deixou claro que quer barrar o acordo por considerar que haverá prejuízos aos agricultores e pecuaristas de seu país. Ontem,o Parlamento francês expressou,em votação simbólica,repúdio ao acordo.
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Em meio a protestos de setores agrícolas no país contra as negociações,484 de 555 deputados validaram a posição de Macron,que buscava um apoio unânime para pressionar a Comissão Europeia (CE).
Lia Valls,pesquisadora do FGV Ibre e professora da Uerj,entende que o movimento do Carrefour impacta a imagem do Brasil na Europa,mais precisamente na França.
— Se queremos expandir exportações,a Europa é importante como vitrine,mesmo comprando pouco. Mas os maiores mercados brasileiros para carne estão na Ásia e não serão afetados — diz ela,salientando que,com a eleição de Donald Trump e a iminência de um mundo mais protecionista,a postura da Europa deveria ir no sentido oposto.
O principal argumento dos líderes contrários ao acordo é que os produtos oriundos do Mercosul,especialmente do Brasil,provocarão uma concorrência desleal por não serem obrigadas a seguir rígidas e custosas normas sanitárias e ambientais da Europa.
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O governo brasileiro rebate o argumento de forma veemente e afirma que os exportadores brasileiros já atingiram os níveis mais elevados de segurança alimentar e sustentabilidade.
Marcos Jank,professor sênior de agronegócio global do Insper,avalia que o Carrefour errou em seu posicionamento sobre a carne brasileira:
— Empresas globais atuarem juntas parece ser uma coisa orquestrada. Mas é um erro usarem de demagogia barata,dizendo que não vão comprar carne do Brasil porque não tem qualidade. Isso gerou união do setor para desenhar uma linha em uma área em que temos relevância global. A França é contra o acordo e vai tentar vetar. Mas outros países querem fazer. O que aconteceu agora gerou uma comoção enorme e fortaleceu o Brasil,que deixou claro que proselitismo não é aceitável.
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Welber Barral,ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da consultoria BMJ,lembra que setores europeus fazem lobby contra o acordo.
— A União Europeia é toda protecionista. Existe a perspectiva de algum avanço na semana que vem. Mas,mesmo assim,se for fechado,na melhor hipótese esse acordo levaria de quatro a cinco anos para entrar em vigor — diz Barral.
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