Equipe do Botafogo recebe a taça de campeão da Libertadores — Foto: ALEJANDRO PAGNI / AFP
GERADO EM: 01/12/2024 - 22:28
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Finais das duas principais competições do futebol sul-americano,praticamente em sequência. A Libertadores,o Campeonato Brasileiro. A primeira,organizada pela Conmebol. A segunda,desorganizada pela CBF em coparticipação com os clubes. Cabe rever as duas partidas que fez o Botafogo na última semana,contra o Atlético-MG e o Palmeiras,para notar a discrepância entre ambas,em termos comerciais e de organização. Mas,desta vez,reflita sobre o entorno.
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No Allianz Parque,sede da “final” entre Palmeiras e Botafogo,o problema começa pela grama. Se o estádio vai ser usado no sábado para uma bateria de shows,que terminou à noite com Lenny Kravitz,tudo bem. A maioria parece já ter entendido que o empreendimento precisa de receitas,aluguéis,coisa e tal. Mas não dá para disputar um jogo de primeira divisão três dias depois ali,com o gramado mais pálido do que o Frejat depois de ser expulso do palco.
Depois,há evidente problema com as propagandas. Quando a câmera chega ao terço final do campo,num ataque ou para um escanteio,o torcedor é impactado por nada menos do que 11 plaquinhas com marcas diferentes atrás da linha de fundo. Fora a placa digital,que exibe outras marcas,em cores e formatos diferentes. É um espetáculo,produzido para te distrair do jogo e impedir que você lembre ou goste de qualquer patrocinador do torneio ou dos clubes.
E nesta decisão em particular ainda houve uma inovação tecnológica: a placa publicitária em tamanho plus size,na linha lateral do campo,de ponta a ponta. Aos olhos de quem vê pela televisão,ela é maior do que os jogadores. Uma casa de apostas aparece com um fogaréu,outra casa de apostas deixa tudo laranja e branco,mais uma casa de apostas entra no lugar. Os slogans correm mais rápido do que os atletas e a bola e brilham,pulam. Em tamanho XXG.
Ainda sob os efeitos estrambólicos do jogo contra o Palmeiras,reveja agora os melhores momentos de Botafogo e Atlético-MG. A final única,goste dela ou não,permite que o dia do jogo no estádio seja ordenado: arquibancada cheia e dividida,gramado adequado. Atrás do gol,duas placas estáticas,e o letreiro digital,que se estende por todo o campo. Em tamanho G,convencional,nítido e dimensionado para pelo menos não desviar a atenção do espectador.
Não é por acaso que a Conmebol tenha feito a Libertadores crescer tanto,financeiramente,na última década. Ainda que o torneio tenha sido dominado por brasileiros — um problema de concentração de riquezas difícil de lidar,que vai além da jurisdição da confederação —,a entidade aplicou a cartilha do marketing esportivo e fez seu faturamento disparar,com direitos de transmissão e patrocínios. Os clubes que jogam a Liberta,lógico,beneficiam-se disso.
E o Brasileirão? Este vai terminando 2024 com metade dos direitos do ano que vem vendidos por um bloco comercial,metade com a comercialização ainda em andamento. Questões cruciais,como placas publicitárias e identidade visual,são entregues a agências e esquecidas. Gramado,estádio,calendário,chovam no molhado. A CBF desorganiza o que os clubes não organizam.
Não creiam que essa discrepância passará despercebida. Ainda que o torcedor nem sempre se apegue a minúcias do marketing esportivo,e talvez nem concorde com tudo aqui descrito,ele está no estádio ou diante da TV e vive o futebol. Ele sabe a diferença de assistir a uma “decisão” de Brasileiro e uma final de Libertadores. No fim,a experiência é o que importa.