Cena da nova cópia de “Encarnação do demônio” (2008),da mostra “José Mojica Marins Restaurado” — Foto: Divulgação
GERADO EM: 11/12/2024 - 18:20
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Em 2008,o cineasta José Mojica Marins (1936-2020) lançou “Encarnação do demônio”,última parte da “Trilogia de Zé do Caixão”,o coveiro que comete as atrocidades mais indizíveis. O filme reavivou o interesse no trabalho do diretor paulista e multiplicaram-se as propostas para exibir outros de seus títulos. Problema: só restavam cópias de baixa qualidade.
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Junto com a família de Mojica,o produtor Paulo Sacramento começou a buscar patrocínio para restaurar as obras do mestre do terror nacional. Até que,em 2020,a distribuidora britânica Arrow Films,interessada em disponibilizar Zé do Caixão nos mercados europeu e americano,topou custear o restauro. Coordenado por Sacramento,o processo ocupou o laboratório Cinecolor,em São Paulo,entre 2022 e 2023.
O resultado pode ser conferido na mostra “José Mojica Marins Restaurado”,em cartaz no Instituto Moreira Salles (IMS),em São Paulo. Até o dia 22,serão exibidos dez filmes do diretor no formato 4K. Nesta sexta-feira 13,serão projetados os três títulos da trilogia (que além de “Encarnação...” tem “À meia-noite levarei sua alma”,de 1964,e “Esta noite encarnarei no teu cadáver”,de 1967). Na próxima quarta,dia 18,Sacramento dará uma palestra sobre o restauro dos longas.
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O estado dos negativos e das cópias dos filmes,guardados na Cinemateca Brasileira,era crítico,recorda Sacramento.
— Fomos muito fiéis à criação de Mojica. O restauro faz cair por terra a ideia de que o cinema dele era trash ou malfeito. Ele não tinha recursos,é verdade,mas sempre trabalhou com técnicos maravilhosos,que superavam dificuldades e imprimiam ao material uma qualidade extraordinária — diz Sacramento.
Entre os filmes em cartaz no IMS há obras quase desconhecidas,como “Finis Hominis: o fim do homem” (1971) e “Quando os deuses adormecem” (1972),protagonizadas por um personagem que é o avesso do coveiro maldito.
— Mojica fez faroeste,filme infantil,mas o estouro do Zé do Caixão foi tamanho que ele acabou identificado com essa figura malévola. Mas ele também apostou numa figura que era o contrário do Zé do Caixão,o Finis Hominis,um louco que sai do hospício e quer ajudar as pessoas a enxergar o caminho do bem — conta Sacramento. — Esses dois filmes são muito coloridos,o personagem usa um turbante,é bem diferente do Zé do Caixão. São raridades.
no IMS — Foto: Divulgação" width="2910" height="2126" loading="lazy"> Cena da nova cópia de “Finis Hominis” (2008),da mostra “José Mojica Marins Restaurado”,<EP,1> no IMS<EP,1> — Foto: Divulgação
Este ano,a Arrow Films lançou os dez títulos restaurados em blu-ray,num box disponibilizado na Europa e nos Estados Unidos. Em seis meses,dez mil cópias já haviam sido vendidas. A obra de Mojica é reverenciada no exterior desde a década de 1970. Lá fora,o coveiro diabólico é conhecido como “Coffin Joe” e arregimentou fãs como o cineasta Darren Aronofsky,de “Réquiem para um sonho” e “Cisne negro”,e o roqueiro Johnny Ramone (1948-2004).
No Brasil,aponta Sacramento,a exploração de Mojica como uma “figura folclórica” que ia a programas de TV assustar plateias com suas unhas afiadas acabou prejudicando a avaliação crítica de sua produção. Com a restauração,ele espera que os filmes alcancem um público mais jovem (sem tanta memória desse folclore) e capaz de julgá-los sem o peso dos clichês.
As cópias restauradas já foram exibidas em Barcelona e em Belo Horizonte. No IMS de Poços de Caldas,no Sul de Minas,a mostra “José Mojica Marins Restaurado” segue em cartaz até março de 2025. Sacramento conta que há convites para levá-la a outras cidades do Brasil e do exterior.