Antônio Vinicius Lopes Gritzbach — Foto: Reprodução
GERADO EM: 17/12/2024 - 22:41
O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
CLIQUE E LEIA AQUI O RESUMO
Uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) que prendeu quatro policiais civis na manhã de ontem revelou uma nova brecha em que o crime teria se infiltrado na segurança pública de São Paulo. Os policiais alvo da Operação Tacitus haviam sido denunciados na delação premiada do empresário Vinícius Gritzbach,que admitiu negócios com o PCC e foi assassinado no Aeroporto de Guarulhos no início de novembro.
Caso Gritzbach: Saiba quem são os policiais presos por suposto elo com PCC em operação do MP e PFCom placa adulterada: Viatura policial foi flagrada na cena do crime horas antes da morte de Gritzbach
Os alvos foram o delegado Fábio Baena Martin e os investigadores Eduardo Lopes Monteiro,Marcelo Ruggieri e Marcelo Marques de Souza,conhecido como Marcelo Bombom. Um quinto policial,Rogério de Almeida Felício,o Rogerinho,que trabalhou na segurança do cantor sertanejo Gusttavo Lima,está foragido.
Em depoimento de 10 de setembro,Gritzbach contou aos promotores ter sido extorquido pelo grupo,que via nele uma “cana de bilhões”,gíria para preso com alto potencial para extorsão,segundo trechos da delação aos quais o GLOBO teve acesso. Também foram decretadas as prisões temporárias do advogado Ahmed Hassan Saleh e dos empresários Robinson Moura e Ademir Pereira de Andrade.
A incompatibilidade patrimonial dos policiais foi o que mais chamou a atenção da PF e do MP. Imóveis,carros de luxo e joias seriam provas de lavagem de dinheiro. Segundo a investigação,valores ilícitos obtidos com propinas eram usados para grandes compras em nome de laranjas. Por enquanto,ainda não foram encontradas ligações entre o grupo e a execução do empresário.
Segurança de Gusttavo Lima é procurado em operação contra policiais ligados ao PCC — Foto: Reprodução
— Cruzando informações de uma série de homicídios desde 2018,mostramos que os investigados constituíram uma organização criminosa em que a violência e a corrupção policial são elementos centrais para assegurar a impunidade. Essa organização tem estabilidade e lava dinheiro do tráfico de drogas — diz um promotor que integra a investigação.
Ao determinar as prisões,o juiz Paulo Fernando Deroma de Mello,da 1ª Vara de Crimes Tributários,Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital,ressaltou que “caso os elementos colhidos até o momento sejam confirmados na investigação em curso,pode-se afirmar que o Brasil tornou-se um narcoestado”.
Em nota,o advogado Daniel Bialski,responsável pelas defesas de Baena e de Monteiro,diz que não havia necessidade das prisões,que considerou uma arbitrariedade. “Inadmissível no Brasil se banalizar o direito à liberdade,decretando-se prisão midiática,sem contemporaneidade,e o mais grave,por fatos que já foram investigados e arquivados pela Justiça,por recomendação do próprio MP”.
Bialski classificou as acusações de Gritzbach como “a palavra pueril de um mitômano,sem qualquer elemento novo de prova”,que não poderia motivar as prisões.
Ao Jornal Nacional,da TV Globo,o advogado de Ruggieri disse que não teve acesso aos autos,mas considera prematura a prisão. A defesa de Rogério afirmou que ele é inocente e vai tomar as medidas legais cabíveis. O advogado de Robinson alegou que o empresário é “uma pessoa de conduta ilibada” e que prestou todos os esclarecimentos à Justiça.
A Delação de Gritzbach — Foto: Arte O Globo
Ao Ministério Público,Gritzbach acusou Baena e Monteiro de cobrarem propina para não prender integrantes do PCC. O empresário mostrou documentos que indicam a apropriação de um sítio de origem criminosa pela dupla. O delator acrescentou que relógios de luxo apreendidos em sua casa ficaram com Rogerinho.
Gritzbach contou que o primeiro contato que teve com os policiais foi em fevereiro de 2022,quando foi preso temporariamente pelos homicídios de Anselmo Becheli Santa Fausta,o “Cara Preta”,e Antônio Corona Neto,o “Sem Sangue”. Ambos eram do PCC e foram mortos a tiros em 2021 na capital paulista. Gritzbach lavava dinheiro do tráfico de drogas para a quadrilha.
Baena estava no Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Segundo Gritzbach,assim que ele entrou no carro da polícia ao ser preso,o delegado e Monteiro ligaram para Marcelo Bombom comemorando a “cana de bilhões” que estava com a dupla. “Eduardo (Monteiro) repetiu inúmeras vezes que no momento em que eu chegasse no DHPP não era para ter contato com nenhum outro policial,e somente falar com ele”,contou o empresário na delação aos promotores.
Gritzbach disse que foi levado à sala de Baena,que estaria com bens do empresário,como computadores,relógios e R$ 20 mil. Parte dos itens foi devolvida,mas o delegado teria ficado com os relógios,alguns computadores e o dinheiro,restituídos posteriormente.
O empresário assassinado também acusou Monteiro de ter relação com líderes do PCC. “Na sala de Eduardo,este me informou que ligaria para um dos 14 (alta cúpula do PCC). Ligou para esta pessoa,cujo nome não mencionou. Ela falou para eu ficar tranquilo,que eu não tinha nada a ver com o ocorrido,mandando Eduardo não cometer injustiça”.
Gritzbach afirmou que,depois de solto e já em tratativas com o MP-SP para a colaboração,passou a receber ligações dos policiais,que diziam querer ajudá-lo. O advogado do empresário dizia a ele que os policiais pediram R$ 40 milhões para tirá-lo do inquérito policial. “Posteriormente,falaram que nem se eu pagasse R$ 60 milhões me livrariam”,registrou o delator,afirmando que “nada foi pago”.