'Jogo político': como o Centrão pretende lutar contra Dino e a 'Lava-Jato das emendas'
GERADO EM: 08/01/2025 - 20:39
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Bom dia,boa tarde,boa noite,a depender da hora em que você abriu esse e-mail. Sou o editor de Política e Brasil do GLOBO e nessa newsletter você encontra análises,bastidores e conteúdos relevantes do noticiário político. Feliz 2025 e vamos nessa para mais um ano!
O ano virou e você,leitor,está vendo uma série de sinais de que 2025 será de operações policiais para atacar a corrupção das emendas,aqueles recursos bilionários nas mãos de deputados e senadores para obras em seus redutos. Mais do que o bloqueio desses repasses entre o Natal e o Ano Novo,é este o pano de fundo das manchetes e mais manchetes de jornais sobre a guerra entre o ministro do Supremo Flávio Dino e o Congresso Nacional.
Nos últimos dias,Andrea Sadi e Daniela Lima,da Globonews,deram o tom do clima entre parlamentares. "Todo mundo está irritado,mas também agora com muito medo. Ninguém sabe onde isso vai parar. E não fica só no Congresso. O que falam é em uma Lava-Jato das emendas",disse Lima na TV. "Nos bastidores,o Palácio do Planalto concorda que a instauração de inquéritos vai pressionar congressistas a darem mais transparência à destinação das emendas",escreveu Sadi em seu blog no G1,no dia 3. Robson Bonin,na última edição da coluna Radar,da Veja,também tratou do tema: "No STF,ministros vislumbram dias turbulentos no Congresso neste ano. É que novas ações da Polícia Federal vão mirar políticos graúdos nesse caso das emendas. 'É escândalo certo',diz um ministro".
O presidente da Câmara,Arthur Lira (PP),escolheu o silêncio nas declarações públicas,mas vem atuando nos bastidores para desmontar o maior temor dos congressistas para 2025: que Flávio Dino vire uma espécie de "Xandão das emendas",expressão cunhada pela jornalista Vera Magalhães em O GLOBO,em referência ao colega Alexandre de Moraes,hoje responsável por todas as ações no STF contra Jair Bolsonaro. Ou seja,seria a possibilidade de Dino se eternizar como "uma espécie de xerife das emendas parlamentares,mantendo a relatoria de toda e qualquer ação que ingressar no STF a respeito do tema e solicitando à Polícia Federal a abertura de inquéritos em série para fiscalizar a destinação dos recursos orçamentários".
Para entender as movimentações de Lira e seus colegas do Centrão para reagir ao STF,é preciso entender o significado de duas siglas: ADI,ou Ação Direta de Inconstitucionalidade,e ADPF,ou Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. São esses os dois instrumentos judiciais que vêm sendo usados por partidos como o PSOL e o Novo contra a aplicação não-transparente das emendas nos últimos anos. Hoje,Dino toca quatro ações na Corte: a ADPF 854 (sobre o orçamento secreto),as ADIs 7688 e 7695 (sobre emendas pix) e a ADI 7697 (sobre emendas impositivas). É por meio delas que o ministro vem tomando decisões,a principal delas bloqueando cerca de 5,4 mil emendas de comissão sem a devida identificação dos padrinhos.
Lira e líderes dos principais partidos do Congresso têm na ponta da língua que ADIs e ADPFs não podem gerar nas investigações criminais o que no direito é conhecido como prevenção,ou seja,a concentração da competência de um assunto em único juiz. Ou seja,para o Centrão,Dino não pode relatar qualquer apuração sobre emendas no Brasil só porque tem em mãos uma ADPF e três ADIs do tema.
Um primeiro teste para as teses pode ocorrer em breve. Caciques do Centrão estão em alerta sobre a possibilidade de o inquérito contra os desvios de emendas do "Rei do Lixo",o empresário baiano José Marcos de Moura,preso (e já solto) no fim do ano passado na Bahia,subir para o STF devido ao relacionamento dele com políticos poderosos de Brasília. O União Brasil,sigla que deu cadeira a Moura na Executiva Nacional,já está mobilizado para se desvincular do empresário. Como mostrou o colunista do GLOBO Lauro Jardim no último domingo,"integrantes da legenda passaram a defender a saída do encrencado filiado de postos importantes no partido no intuito de tentar se afastar da investigação da PF".
As razões para Brasília tremer com o 'Rei do Lixo': Como e onde atuava o empresário
Ex-marqueteiro de Bill Clinton,conhecido pela frase "É a economia,estúpido",James Carville escreveu texto para o New York Times na semana passada reafirmando o seu mantra como o pilar fundamental de eleições pelo mundo,mas reconhecendo que vivemos tempos distintos dos anos 90,quando cunhou a expressão. Basicamente,o que o americano quis dizer há mais de 30 anos é que os resultados econômicos de um governo determinam a sua popularidade e a capacidade de reeleição de políticos.
Especialistas debatem: A economia ainda é garantia de alta popularidade?
Em "Sempre será a economia,Carville reconhece o erro de prever a vitória de Kamala Harris contra Donald Trump. Ele considerava o resultado certo porque a economia dos Estados Unidos permanecia a mais forte do mundo,"com o PIB disparando e a inflação diminuindo". Agora,não bastam os índices,é preciso vencer a disputa de comunicação. "Os democratas simplesmente perderam a narrativa econômica. A percepção é tudo na política. Trump colocou a raiva econômica dos americanos em primeiro plano",escreveu,para mais à frente propor que os adversários de Trump partam para propostas populistas na seara econômica neste novo ambiente. "Vamos começar forçando-os a se opor a um aumento do salário mínimo para US$ 15 por hora",pontuou Carville.
É nesse caldo de novos tempos populistas que duas candidaturas presidenciais foram lançadas na semana passada por outsiders-celebridades (uma com mais repercussão,outra nem tanto,talvez por jogar o projeto rumo ao Planalto para depois de 2026).
Ao site Metrópoles,o cantor sertanejo Gusttavo Lima anunciou que quer ser candidato daqui a dois anos: "O Brasil precisa de alternativas. Estou cansado de ver o povo passar necessidades sem poder fazer muito para ajudar",clamou. Como O GLOBO mostrou,já há vários partidos na fila para atrair o artista.
Mais discreto foi o ex-BBB Gil do Vigor ao jornal Extra,na edição de 2 de janeiro. No último parágrafo de uma reportagem sobre o novo programa de bate-papo com eliminados do reality show que vai comandar,Gil falou da sua ambição política. "Vou estudar o Brasil não só como economista,mas como um líder político. Preciso de uns quatro anos para elaborar propostas e projetos sérios. Depois de tudo estruturado,estarei apto a concorrer à Presidência da República. Vamos vigorar!",disse Gil,que passará o primeiro semestre deste ano escrevendo sua tese de PhD sobre economia do crime pela Universidade da Califórnia,nos EUA.
Gusttavo Lima tem 45,5 milhões de seguidores no Instagram. Gil do Vigor,14,1 milhões. Nesta terça-feira,o governo Lula anunciou mudanças na Secretaria de Comunicação para buscar ser mais competitivo na arena digital. Saiu Paulo Pimenta e entrou o marqueteiro Sidônio Palmeira,que já chegou pregando sobre os tais novos tempos: "Esse governo fez muito e as coisas precisam chegar na ponta. É importante que a gestão não seja analógica,que ela se comunique com as pessoas",disse em seu primeiro pronunciamento.
• ‘Moana 2’
Levei meu filho,Felipe,para assistir ao filme,curioso para saber se veria ou não uma obra de "apelo identitário",espécie de carimbo colocado por todos aqueles que querem criticar algo por não "seguir o padrão branco",como escreveu Luana Génot no GLOBO em dezembro. Concordo plenamente com suas palavras: "Não há nada de identitário em 'Moana',além do óbvio: é uma personagem que reflete uma cultura específica,assim como qualquer narrativa que tenha um contexto cultural (…). Mas ninguém nunca chamou 'A noviça rebelde' de conteúdo identitário europeu,não é? (…). Chamar algo de identitário só porque não segue o padrão europeu é reduzir histórias riquíssimas a estereótipos e preconceitos". Vi um filme visualmente lindo,colorido,musical,diverso,que prendeu a atenção do Felipe do início ao fim.
• ‘Kubrusly: mistério sempre há de pintar por aí’
O documentário mostra como vive hoje,aos 79 anos,o jornalista que marcou época com reportagens irreverentes sobre cultura. Diagnosticado com demência frontotemporal,a mesma do ator Bruce Willis,Maurício Kubrusly não se lembra mais de nada do que fez como crítico musical na imprensa escrita e nos conteúdos para a Rede Globo. A esposa,a arquiteta Beatriz Goulart,é a única que ele ainda reconhece. O casal,que se conheceu em um site de relacionamentos,mora numa propriedade em Serra Grande,no litoral da Bahia,a cerca de 43km de Ilhéus. Desde que começou a tomar canabidiol,a qualidade de vida de Kubrusly melhorou. Ele tem tido um sono mais tranquilo e os impulsos agressivos,comuns em pacientes com demência,desapareceram,relatou reportagem de Ruan de Souza Gabriel em O GLOBO. Gilberto Gil cantando suas músicas para Krubusly é o ponto alto e emocionante do documentário. Ele não reconhece,mas aprecia as canções.