O ex-presidente Jair Bolsonaro no aeroporto de Brasília em janeiro passado — Foto: Evaristo Sá/AFP
O ex-presidente Jair Bolsonaro já formulou um discurso com o qual pretende evitar o desgaste que o projeto de lei que enfraquece a Lei da Ficha Limpa,apresentado como alternativa para reabilitá-lo eleitoralmente em 2026,pode trazer junto ao eleitorado de direita.
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Parte de seus aliados vê a defesa pública do projeto como um movimento perigoso,que pode ser visto como um ´liberou geral´ para corruptos,e por enquanto prefere priorizar no Congresso a proposta de anistia aos presos do 8 de janeiro. Mas Bolsonaro está entusiasmado com a iniciativa,que tem a aprovação do presidente da Câmara dos Deputados,Hugo Motta (Republicanos-PB),e já elaborou seu antídoto.
À equipe do blog,o ex-presidente disse considerar a Ficha Limpa uma legislação desmoralizada pelo próprio Judiciário,que a teria instrumentalizado com fins políticos. Mantê-la como está seria apenas uma forma de punir os inimigos do governo.
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“Depois da manobra que foi feita no Senado juntamente com o ministro [Ricardo] Lewandowski para manter Dilma Rousseff elegível,tanto que ela veio candidata em 2018,e a questão do Lula – que tira o cara da cadeia e anula por uma questão de CEP as três condenações –,perdeu-se a finalidade da Ficha Limpa. Passou a ser uma lei para ser usada pela Justiça Eleitoral contra aqueles que são seus inimigos de momento. É esse o grande problema”.
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Jair Messias Bolsonaro,ex-presidente da Repúblic — Foto: MAURO PIMENTEL / AFP
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Alexandre Rodrigues Ramagem,policial federal,ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) — Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo
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Angelo Martins Denicoli,ex-diretor no Ministério da Saúde e ex-assessor na Petrobras — Foto: Reprodução
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José Eduardo de Oliveira e Silva,padre — Foto: Reprodução
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Almir Garnier Santos,ex-comandante da Marinha do Brasil — Foto: Reprodução
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Ailton Gonçalves Barros,ex-militar e advogado — Foto: Reprodução
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Alexandre Castilho Bitencourt da Silva — Foto: Reprodução
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Amauri Feres Saad,advogado — Foto: Reprodução
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Anderson Gustavo Torres,ex-ministro da Justiça e Segurança Pública — Foto: Reprodução
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Augusto Heleno Ribeiro Pereira,ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência — Foto: Agência Brasil
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Bernardo Romão Corrêa Netto — Foto: Reprodução
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Carlos Cesar Moretzsohn Rocha,Dono do Instituto Voto Legal (IVL) — Foto: Reprodução
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Cleverson Ney Magalhães,militar — Foto: Reprodução
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Filipe Garcia Martins Pereira,ex-assessor de Bolsonaro — Foto: Reprodução
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Guilherme Marques Almeida,ex-chefe da seção de Operações Psicológicas no Comando de Operações Terrestres — Foto: Divulgação
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Laércio Vergílio — Foto: Reprodução
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Marcelo Costa Câmara,ex-ajudante de ordens de Bolsonaro — Foto: Reprodução
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Fernando Cerimedo,influencer dono do canal La Derecha Diario — Foto: Reprodução
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General Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira — Foto: Divulgação/Exército
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General Mario Fernandes — Foto: Reprodução/Youtube
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Mauro Cesar Barbosa Cid,ex-ajudante de ordens de Bolsonaro — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
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Nilton Diniz Rodrigues,comandante da 2ª Brigada de Infantaria de Selva — Foto: Reprodução
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Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho,empresário,neto de João Baptista Figueiredo,último presidente da ditadura — Foto: Reprodução
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Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira,ex-ministro da Defesa e ex-comandante do Exército — Foto: Agencia Brasil
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Rafael Martins de Oliveira,tenente-coronel do Exército — Foto: Reprodução
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Tércio Arnaud Tomaz,ex-assessor especial de Bolsonaro — Foto: Reprodução
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Valdemar Costa Neto,presidente do PL (partido de Bolsonaro) — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
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Walter Souza Braga Netto,ex-ministro da Casa Civil e da Defesa — Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo / Arquivo
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Wladimir Matos Soares,policial federal — Foto: Reprodução
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Fabrício Moreira de Bastos,ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social de Bolsonaro e do 52° Batalhão de Infantaria de Selva do Exército,em Marabá (PA) — Foto: Reprodução
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No caso de Dilma,a manobra de que Bolsonaro fala foi a decisão tomada por Ricardo Lewandowski na mesma sessão que aprovou o impeachment da petista,após uma articulação de senadores da base do governo.
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Na ocasião,o então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e hoje ministro da Justiça de Lula autorizou que os senadores fizessem uma votação para decidir se a presidente deveria ter seus direitos políticos mantidos,o que não ocorreu com Fernando Collor em 1992.
A “questão de CEP” no caso de Lula é uma referência à decisão do Supremo de anular as condenações do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Operação Lava-Jato em 2021 a partir da interpretação de que a Justiça Federal no Paraná não tinha competência para julgar os casos da força-tarefa,que acabou por anular as condenações e viabilizar a candidatura do petista em 2022.
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“Quando não se usa a lei para seu devido destino,a tendência é fazer isso daí. É a tendência”,justificou Bolsonaro.
Contudo,o texto do projeto que está em análise na Câmara e será relatado por Filipe Barros (PL-PR) foi feito sob medida para Bolsonaro. Ele reduz a inelegibilidade para quem for condenado por abuso de poder político ou econômico e uso indevido dos meios de comunicação.
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Esses foram justamente os fundamentos pelos quais o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tornou o ex-presidente inelegível em 2023 – que,por sinal,são contestados até hoje por ele.
“O que estão buscando a mudança na Lei da Ficha Limpa no Senado é o prazo de oito anos de inelegibilidade,que é muito longo. Eu sempre pergunto: se tivessem achado dinheiro na cueca de alguém,dinheiro lá fora,mala de dinheiro no apartamento,um crime ou outro [tudo bem]. Agora,qual foi o meu crime? Me reunir com os embaixadores? Me dirigir a milhares de pessoas sem a faixa [presidencial] no 7 de setembro?”,criticou.
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Bolsonaro foi condenado em duas ações de investigação judicial eleitoral (as chamadas Aijes): uma referente à reunião com embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada em julho de 2022,quando disparou críticas e informações falsas contra o sistema eleitoral brasileiro,e outra relacionada ao desfile do 7 de setembro do mesmo ano,quando fez um comício eleitoral após o evento militar a um mês do primeiro turno da eleição presidencial em uma estrutura financiada por recursos públicos e com a fala transmitida pela estatal TV Brasil.
Se as mudanças na Ficha Limpa prosperarem,o ex-presidente poderia concorrer em 2026,uma vez que a contagem do prazo se refere ao ano das irregularidades cometidas e não da condenação pelo TSE. Apesar da inelegibilidade,Bolsonaro tem se colocado como o “plano A” da direita em 2026 e desautorizado a movimentação de outras lideranças de direita,como seu ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o ex-aliado Ronaldo Caiado (União Brasil),para herdar seu eleitorado no ano que vem.
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As condenações no TSE,porém,não são a única pendência a manter o ex-presidente longe das urnas. Bolsonaro foi indiciado em novembro pela Polícia Federal – e tudo indica que será denunciado pela Procuradoria Geral da República (PGR) – por outros crimes,como tentativa de golpe de Estado,tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.
Como o projeto em discussão na Câmara não se aplica a esses casos,a mudança não fará diferença para Bolsonaro se ele for condenado antes de 2026. Mas poderá beneficiar muitos outros políticos condenados por variados crimes e que hoje estão inelegíveis,o que tem preocupado seus aliados,como mostramos no blog.
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Criada em 2010,a Ficha Limpa é uma das poucas leis aprovadas por iniciativa popular. Ela se consagrou como sinônimo de combate à impunidade e barrou a candidatura de uma série de políticos desde então,inclusive o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva em 2018.
Na prática,a redução na punição tira a efetividade da lei. Há especialistas que classificam a mudança inclusive como uma “volta à impunidade”.
Ainda que setores do PL mais próximos do Centrão tenham apreço pelo projeto,a tendência é que o bolsonarismo continue trabalhando pela pauta da anistia aos golpistas do 8 de janeiro – que,em última instância,poderá se aplicar a Bolsonaro,abrindo caminho para sua candidatura em 2026.