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Por que o Brasil prefere negociação em vez de retaliação para reagir às tarifas de Trump sobre aço e alumínio

2025-02-12     IDOPRESS

Trabalhadores empilham vergalhões em Fuyang,na China. Maior produtor global de aço,país é acusado de inundar outros mercado com o item — Foto: AFP

RESUMO

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GERADO EM: 11/02/2025 - 22:42

Brasil opta por diálogo em vez de retaliação às tarifas de Trump sobre aço e alumínio.

Brasil prefere negociar do que retaliar as tarifas de Trump sobre aço e alumínio. Estratégia de cautela adotada para evitar "guerra comercial". Governo busca diálogo com EUA e considera diferentes medidas,como ação na OMC. Impactos econômicos e desafios enfrentados diante das decisões do presidente americano.

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Integrantes do governo Luiz Inácio Lula da Silva avaliam que há uma brecha para negociar com os Estados Unidos a adoção de cotas ou exceções às sobretaxas de 25% sobre aço e alumínio impostas pelo presidente Donald Trump. Elas devem entrar em vigor em 12 de março.

No primeiro mandato de Trump os dois países acabaram fechando um acordo,e a avaliação de especialistas é que o republicano está repetindo a tática de ameaçar para obter concessões.

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Com essa avaliação,o governo adotou ontem tom de cautela,que contrastou com a promessa recente do presidente Lula de agir com “reciprocidade” caso Trump passasse da ameaça à ação.

O ministro da Fazenda,Fernando Haddad,ressaltou que essas sobretaxas não são “contra o Brasil”,embora o país seja o segundo maior exportador de aço para os EUA:

— Nós estamos acompanhando,primeiro para saber as minúcias da decisão,entendendo quais implicações isso vai ter. Porque não é uma decisão contra o Brasil,é uma coisa genérica para todo mundo,estamos observando as reações do México,China e Canadá.

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Ele ainda fez uma crítica:

— Medidas unilaterais desse tipo são contraprodutivas para a melhoria da economia global. A economia global perde com isso,com essa retração,com essa desglobalização que está acontecendo.

Trump cita o Brasil

Haddad afirmou não saber qual é a disposição de Trump para negociar no momento,lembrando que,em 2018,o republicano impôs uma sobretaxa,mas pouco tempo depois houve um recuo.

Já o ministro da Secretaria de Relações Institucionais,Alexandre Padilha,assegurou que o Brasil não entrará em “guerra comercial”:

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— Guerra comercial não faz bem para ninguém. O Brasil não estimula e não entrará em nenhuma guerra comercial.

Fernando Haddad ressaltou que essas sobretaxas não são “contra o Brasil”,embora o país seja o segundo maior exportador de aço para os EUA — Foto: Bloomberg

Nos bastidores do governo brasileiro,a avaliação é que tudo está sobre a mesa em uma negociação com Washington,além da criação de cotas: a reciprocidade em relação ao aço e ao alumínio americanos,a elevação de tarifas sobre uma lista de itens importados dos EUA e,na falta de acordo,uma ação na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Em contatos a serem feitos com autoridades americanas,dizem fontes,o Brasil usará como argumento que as exportações brasileiras são,principalmente,de matérias-primas,que ficarão mais caras para as indústrias americanas.

A expectativa é que se chegue a uma estratégia ainda esta semana. Estão envolvidos nessas discussões o Itamaraty e os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento,Indústria,Comércio e Serviços.

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De acordo com o decreto de Trump,a decisão de incluir o Brasil nos países taxados se deveu à compra de aço chinês. “As importações brasileiras de países com níveis significativos de excesso de capacidade,especificamente a China,registraram um enorme crescimento nos últimos anos,mais do que triplicando desde a instituição desse arranjo de cotas” (de 2018). A China é o maior produtor de aço do mundo.

Em seu primeiro mandato,Trump impôs sobretaxas de 25% e 10% sobre o aço e o alumínio,respectivamente. Contudo,após pressão de empresários americanos,o Brasil foi excluído e entrou em um regime de cotas. O governo brasileiro espera que esse movimento se repita.

Em 2024,os EUA importaram 6 milhões de toneladas de aço do Canadá. O Brasil ficou em segundo lugar,com 4,1 milhões de toneladas,seguido pelo México,com 3,2 milhões. Os EUA são superavitários nesse comércio com o Brasil.

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Para o Instituto Aço Brasil,que representa as empresas do setor,as novas sobretaxas põem por terra o acordo de 2018. A entidade afirma que “inexiste qualquer possibilidade” de haver triangulação de produtos de aço vindos de outros países por meio do Brasil para os EUA,como alegado por Trump.

O Aço Brasil lembra que o Brasil registra “aumento expressivo de importações de países que praticam concorrência predatória,especialmente a China”.

‘Tigre de papel’

No ano passado,as importações de aço pelo Brasil subiram 18,2%,a 5,9 milhões de toneladas,frente a 2023,enquanto as exportações caíram 18,1%,para 9,6 milhões de toneladas. Ao todo,as siderúrgicas brasileiras produziram 33,7 milhões de toneladas,alta de 5,3%.

Flávio Roscoe,presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg),avalia que,devido à demanda americana por aço,o Brasil pode obter benefícios:

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— Grande parte das nossas exportações são de produtos semielaborados,que passam por processos de industrialização em empresas americanas,muitas delas coligadas a companhias brasileiras.

Em nota,a Associação Brasileira do Alumínio disse que “os efeitos imediatos para o Brasil serão sentidos primeiramente nas exportações e na dificuldade de acesso dos produtos brasileiros” ao mercado americano.

Evandro Carvalho,professor da FGV Direito Rio,avalia que o uso repetido das ameaças de taxação por Trump como instrumento de pressão para obter acordos comerciais mais vantajosos aos EUA pode acabar trazendo reveses:

— Com o tempo,a credibilidade de Trump vai ser corroída. Ele vai acabar se mostrando,cada vez mais,um “tigre de papel”. As pessoas vão entender que é assim que ele quer conversar. E é uma forma bizarra,nada diplomática e pouco inteligente.

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No caso de México e Canadá,por exemplo,Trump anunciou sobretaxas,depois estendeu o prazo.

— Já ficou claro que os países não devem passar recibo (para Trump),cair na provocação — disse Carvalho. — Os países estão estudando a postura dele e a reação dos governantes já atingidos para avaliar o que fazer quando chegar a sua vez. Trump prefere negociações bilaterais.

No caso do aço,alerta Carvalho,o Brasil tem de avaliar ainda como serão as negociações entre EUA e China. Ele não descarta uma eventual composição dos dois gigantes econômicos,o que mudaria o jogo geopolítico.

‘Estratégia de flooding’

Welber Barral,ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da consultoria BMJ,lembra que a promessa de Trump de reindustrializar os EUA pode ter efeito negativo na economia americana,ao elevar a inflação. Ele frisa que diversos estudos mostram que a taxação ao aço feita no primeiro governo do republicano elevou os custos para as indústrias que dependem do aço e eliminou postos de trabalho.

Barral também critica o anúncio simultâneo de numerosas medidas:

— Com essa estratégia de flooding,de fazer uma inundação de decisões ao mesmo tempo,ainda não se tem reação da oposição. Mas medidas judiciais freando decretos do Executivo,principalmente por questões de constitucionalidade,estão aumentando muito.

Tiago Feitosa,CEO da T2 Educação,instituição que prepara analistas do mercado financeiro,também prevê alta de preços,já que o aço é matéria-prima de vários produtos,de carros a eletrodomésticos:

— Inevitavelmente esse aumento de preços vai ser repassado ao consumidor americano em forma de inflação.

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