A atriz Mel Lisboa em cena do filme 'Conspiração Condor',filmado em Iguapé,no litoral sul de São Paulo — Foto: Divulgação
GERADO EM: 13/02/2025 - 17:57
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Titular da Secretaria de Cultura,Economia e Indústria Criativa do Estado de São Paulo,Marilia Marton já sabe o que dizer a produtores estrangeiros à procura de locação na Amazônia para rodar um filme: por que não gravar em Caconde,na Serra da Mantiqueira,onde a Mata Atlântica preservada pode atuar como selva equatorial? E se no filme houver cenas em praias desertas? Ubatuba ou Ilhabela,no litoral norte do Estado,oferecem cenários perfeitos,ela garante. Precisa de casarões históricos? Filme o Vale do Paraíba. Dá até para rodar uma trama ambientada no Deserto do Saara em território paulista,afirma a secretária. Mas onde?
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— Não se preocupe,a gente arruma,a gente dá um jeito — diz ela ao GLOBO.
Hoje,Marton participa do European Film Market,evento do Festival Internacional de Cinema de Berlim que visa a promover negócios cinematográficos. A missão dela é apresentar o Plano de Desenvolvimento da Indústria Audiovisual Paulista e convencer produtores internacionais de que vale a pena filmar no estado: há diversidade de cenários,uma rede hoteleira robusta,facilidades logísticas,mão de obra qualificada,arcabouço jurídico favorável,incentivos mil.
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O plano está sendo elaborado pelo Museu da Imagem e do Som (MIS),com o apoio de uma consultoria técnica especializada,e deve ser entregue até o fim do ano. Dividido em dez etapas,o projeto inclui investimentos estratégicos em áreas como governança,infraestrutura,formação de mão de obra,fomento e promoção internacional,com o objetivo de fortalecer a indústria cinematográfica paulista. As prioridades do plano serão revisadas periodicamente,de acordo com o desenvolvimento do setor. Segundo estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe),em 2019,o audiovisual injetou R$ 23,19 bilhões no PIB nacional — 44,6% desse montante (R$ 10,35 bilhões) foi gerado pela indústria cinematográfica paulista.
O Plano de Desenvolvimento da Indústria Audiovisual Paulista é parte do Creative SP,programa de internacionalização da cultura do estado,e prevê,entre outras iniciativas,a criação de comissão estadual para mapear a cidades que podem servir de cenário a produções internacionais. Marton sonha com “cidades cinematográficas” espalhadas por todo o estado. Para ajudar os municípios a aparecerem na telona,a Secretaria de Cultura vai desenvolver arcabouços jurídicos e protocolos de filmagem adequados,além de incentivar linhas de financiamento,isenções fiscais e treinamento de gestores.
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— Quando uma cidade vira cenário,o impacto se dá na geração de emprego,no turismo e na arrecadação. Nos 15 dias de filmagem de “Conspiração Condor” (filme de André Sturm) em Iguapé,a prefeitura registrou um incremento médio de 20% na arrecadação de ISS (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza) — afirma Marton,que espera a colaboração das lideranças municipais. — O prefeito tem que ser amigo do audiovisual,estar disposto a formar uma equipe e garantir as aprovações necessárias para as filmagens.
Para provar do audiovisual paulista,a Secretaria de Cultura prepara um catálogo da produção estadual financiada pela Lei Paulo Gustavo,que inclui filmes como “100 dias”,de Carlos Saldanha (inspirado no livro de Amyr Klink),e “É tempo de amoras”,de Anahí Borges. Em julho,será realizada a Mostra Paulo Gustavo,também dedicada a títulos apoiados pela lei de incentivo. A programação ainda não está fechada.
O plano prevê ainda a reestruturação dos mecanismos de fomento,como editais,ProAC e Lei Aldir Blanc. Vários editais,aponta a secretária,não garantem recursos para a promoção da obra,o que prejudica a distribuição.
— Todo filme precisa de um plano de mídia. Não faz sentido gastar milhões numa produção excelente se ninguém souber que ela está no cinema — diz ela.
Outra aposta da Secretaria de Cultura é a ampliação do número de salas de cinema,em parceria com municípios e entidades do terceiro setor,por meio do incentivo à formação de cineclubes no estado,aproveitando infraestruturas já existentes,como faculdades,escolas e centros culturais.
Marton ressalta que o Plano de Desenvolvimento da Indústria Audiovisual Paulista vem sendo desenvolvido em diálogo com o setor “independentemente de posições ideológicas”.
— O problema das políticas públicas para a cultura é que elas não são contínuas. A cultura não pode depender só do nosso desejo,tem que ser política de Estado — reforça a secretária. — Aqui em São Paulo estamos muito conscientes disso. Enxergamos o cinema para além da tela,como uma cadeia produtiva com grande potencial de desenvolvimento econômico e humano.