A implosão do que restou da ponte sobre o Rio Tocantins após desabamento — Foto: Reprodução/02-02-2025
Técnicos costumam dizer que nenhuma ponte cai de repente. Há avisos. Se houver vistorias periódicas,sempre será possível repará-las ou,no mínimo,interditá-las para salvar vidas. Como não houve nem uma coisa nem outra,o desabamento da Ponte Juscelino Kubitschek,sobre o Rio Tocantins,em dezembro,deixou 14 mortos e três desaparecidos. Os números sugerem que haverá outros casos assim se ninguém tomar providências. Há 736 pontes em estado crítico ou ruim no Brasil,de acordo com os dados oficiais do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) revelados pelo GLOBO.
As estatísticas do Panorama Geral das Pontes Brasileiras sugerem que os riscos podem ser ainda maiores. Das 113.168 pontes existentes no país,apenas 12.142 passaram por alguma inspeção,e as condições de 1.039 foram classificadas como críticas ou ruins. Do total,42 mil (37%) têm mais de 50 anos. É um percentual elevado e preocupante,pois todas elas exigem cuidados especiais para continuar funcionando sem risco. Há poucos dias,o Dnit fechou a Ponte dos Índios,sobre o Rio Pindaré,entre as cidades de Santa Inês e Bom Jardim,no Maranhão. A medida foi tomada depois que indígenas advertiram que a corrosão fez cair parte da estrutura embaixo do vão central.
Risco: Estudo calcula que 11 mil pontes no país podem ter acidentes como o do Rio Tocantins
A interdição infelizmente é uma exceção. Não se conhecem as condições de mais de 100 mil pontes,ou quase 90%,a maioria de responsabilidade de estados e municípios,de acordo com Ademir Santos,professor aposentado de pontes e estruturas de concreto da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A estrutura de vistoria e fiscalização é precária ou mesmo inexistente,segundo constatou estudo sobre o assunto apresentado em outubro por Santos e dois coautores no 65º Congresso Brasileiro do Concreto.
Queda: Estrutura que sobrou da ponte que desabou no Rio Tocantins foi implodida
O Programa de Manutenção e Reabilitação de Estruturas do Dnit estima gastos de R$ 5,83 bilhões em 816 obras. Como não parece haver sentido de urgência,as autoridades ainda esperam resposta do setor de engenharia e construção sobre a capacidade de atender à demanda. Para evitar tragédias,seria necessário investir bem mais em infraestrutura de transporte. Em 2023,os investimentos ficaram em 0,56% do PIB,segundo estudo da MC2R Inteligência Estratégica. A Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) calculou,no mesmo ano,que o país precisaria investir 2,26% do PIB apenas para cobrir a depreciação dos ativos públicos de transportes.
Por 25 anos,o Brasil tem investido menos de 1% do PIB no setor,enquanto China,Rússia,Índia,Coreia do Sul,Vietnã,Chile e Colômbia despendem em média 3,4%. Tais números comprovam mais uma vez a necessidade de promover concessões de rodovias ao setor privado. Nem todas as estradas serão viáveis sob a administração privada,por isso o poder público precisará continuar a mantê-las. Justamente para manter o foco nessas e contribuir para preservar vidas,é preciso acelerar a privatização das demais.