Fernanda Montenegro em cena ao lado de Alan Rocha,no papel inspirado no jornalista que publicou a história no jornal Extra,Fábio Gusmão: “É o ser humano e a miséria à sua volta sem nenhum socorro social”,diz atriz sobre drama de sua personagem — Foto: Divulgação/Suzanna Tierie
GERADO EM: 12/03/2025 - 20:24
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Em cartaz com “Ainda estou aqui”,longa de Walter Salles vencedor do Oscar de melhor filme internacional em que divide com a filha,Fernanda Torres,o papel de Eunice Paiva,Fernanda Montenegro,chega aos cinemas nesta quinta-feira (13) com outro longa: “Vitória”. A trama acompanha a história de uma senhora de 80 anos que filmou com uma câmera própria a rotina do tráfico de drogas e da corrupção na Ladeira dos Tabajaras,em Copacabana,e denunciou à polícia. O caso real foi contado pelo jornal Extra em agosto de 2005,em reportagem de Fábio Gusmão,autor do livro “Dona Vitória da Paz” (Planeta,2006).
— A segurança pública no Brasil só piora. Repito: só piora — diz Fernanda Montenegro sobre o tema que envolve a experiência de sua personagem,hoje ainda mais atual.
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A atriz enfatiza o abandono que assola o cidadão brasileiro diante da criminalidade ao explicar o que a atraiu na personagem,“a história dessa mulher,que é uma heroína”:
— É o ser humano e a miséria à sua volta sem nenhum socorro social — descreve.
Filme original Globoplay,o longa seria dirigido por Breno Silveira — que morreu em decorrência de um infarto no set de filmagens da produção em maio de 2022 — e tem roteiro de Paula Fiuza,viúva do cineasta.
— O filme é uma homenagem a Breno Silveira. Fizemos em louvor a ele — diz Fernanda Montenegro.
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Parceiro de Breno na Conspiração,produtora do longa,Andrucha Waddington,que em 2005 havia procurado Gusmão com a ideia de transformar em filme a história contada pelo jornalista,assumiu a responsabilidade de concluir o projeto,no qual reencontra Fernanda,com quem trabalhou em “Casa de areia” (2005),“O juízo” (2019) e “Amor e sorte” (2020),e com quem,é claro,tem uma relação pessoal como genro (o diretor é casado com Fernanda Torres).
— Recebi,inconformado e tomado de tristeza,uma missão — lembra o diretor,sobre a “convocação” que encarou “com muito amor e carinho” de Paula Fiuza,para que assumisse o longa (“A produção ficou parada por alguns meses até conseguirmos nos levantar,encampar o projeto e voltar a filmar em outubro de 2022”). — Este filme foi muito doloroso para todos os envolvidos. Fernanda nos iluminou dando vida a esta personagem. Trabalhar com Fernanda é sempre um aprendizado,uma operária obcecada no dia a dia,uma companheira de trabalho absolutamente incrível.
Antes desta volta,Andrucha estava afastado da tela grande desde “O juízo” (2019).
— Estava com muita saudade do cinema,mas não queria que fosse desta maneira — complementa o cineasta.
Fernanda Montenegro e Alan Rocha em "Vitória",filme inspirado em história real — Foto: Divulgação/Suzanna Tierie
O diretor diz que considera “Vitória” uma grande homenagem também a dona Joana Zeferino da Paz:
— O filme retrata,através da indignação e resiliência de uma senhora,o caos dentro da segurança pública que assola quase todas as grandes cidades do país.
Joana da Paz morreu aos 97 anos,em fevereiro de 2023,poucos meses após o fim das filmagens inspiradas em sua trajetória. Ela teve então sua identidade revelada,após 17 anos no Programa de Proteção à Testemunha. O jornalista que publicou sua história,Gusmão,é representado na tela por meio do personagem Flávio Godoy,repórter investigativo interpretado por Alan Rocha.
— Procurei me encontrar com o Gusmão e,já alimentado da curiosidade da sua profissão,fiz esse trabalho de pesquisa. Assim como um jornalista,eu o entrevistei. Foi um encontro que contribuiu muito para a construção do meu personagem — diz Alan.
Assim como Fernanda Montenegro,Alan também tem uma participação em “Ainda estou aqui”. Ele vive o repórter que entrevista Eunice Paiva na cena (vivida por Fernanda Torres) do ensaio fotográfico em que o profissional pede uma pose mais séria,e ela responde: “Nós vamos sorrir.”
Depois dos dois longas,Fernanda Montenegro acena ao público que,daqui para a frente,espera vê-la em mais trabalhos,a exemplo de seus monólogos nos palcos a partir de Simone de Beauvoir e Nelson Rodrigues.
— Sou uma atriz de palco,uma atriz votiva de palco. Já se vão 80 anos,mas,de vez em quando,o cinema me chama e lá vou eu. O primeiro filme foi “A falecida” (1965) de Nelson Rodrigues com direção de Leon Hirszman. Ao filmar a última cena,Fernando e eu já estávamos à espera da nossa Nanda,Nandinha. E,sim,podem esperar. Ah,eu espero até que me aguentem,mesmo que eu já não me aguente. Mas,como afirma o Othon Bastos,“eu não desisto”.