Repórter Matheus de Souza testa mototaxis em SP — Foto: Arquivo Pessoal
GERADO EM: 15/05/2025 - 21:37
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Se São Paulo parece ficar menor durante as viagens com moto de aplicativo,por conta da maior facilidade com que se transita pela cidade conhecida por seus congestionamentos,o carona também acompanha com muito mais atenção cada detalhe do trajeto. Outra idiossincrasia: mesmo com uma proximidade muito maior entre condutor e passageiro,o vento e o barulho constante das buzinas impedem que qualquer conversa se estenda por muito tempo. A volta das viagens de moto na capital paulista,recém-liberadas pela Justiça,também traz um aspecto de “teste”. Passageiros avaliam a conveniência e a praticidade das viagens,enquanto motociclistas aderem à nova alternativa de trabalho,mas sem investir em equipamentos adequados para tal.
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A liberação da vez,contestada pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB),que considera a modalidade arriscada,é vista com ceticismo. Temendo nova reviravolta,e ainda sem ter certeza sobre a viabilidade financeira do serviço,quem oferece as viagens escolheu uma forma ‘híbrida’ de trabalho. As motos ainda circulam com a “bag”,para realizar serviços de entrega,mas também reservam espaço para um capacete extra. Troca-se de acordo com o que preferem fazer ao longo do dia. Foi o que relatou um motociclista solicitado pelo GLOBO.
O jornal fez duas viagens nesta quarta-feira. Uma com a 99 e outra com a Uber,para testar os serviços. Os trabalhadores pediram para não ser identificados.
A primeira,realizada via Uber,foi a mais rápida,de 20 minutos,e circulou por duas das principais vias do centro da cidade: a Consolação e a Avenida Rebouças. Uma novidade,já que em janeiro,quando disponibilizado inicialmente na capital,as empresas de aplicativo não disponibilizaram o modal para operar no centro expandido,o miolo da cidade.
O piloto responsável pela primeira corrida contou que estava estreando no tipo de serviço. Trabalhando com entregas,ele foi pego de surpresa quando as solicitações de passageiros voltaram a pipocar. Apesar de tomar cuidado para não aumentar muito a velocidade com um carona,intenção que compartilhou comigo,isso não fez a viagem menos tensa.
Realizada no fim da tarde,quando os carros começam a engarrafar as ruas da cidade,a moto subiu costurando pelas quatro faixas da Consolação — às vezes,fazendo uso da faixa exclusiva para ciclistas — recebeu buzinas de advertências de alguns motoristas e fez paradas bruscas. O motociclista atendeu às exigências da empresa para oferecer o serviço,entre elas a de levar um capacete extra para o usuário. A Uber,no entanto,não especifica modelo,a validade ou a condição do equipamento. A única demanda é que ele esteja higienizado.
Terminei a primeira viagem após tirar um capacete de joaninha que viu dias melhores e que não era a primeira opção de ninguém há muito tempo,inclusive sem a viseira de proteção. A viagem custou apenas R$ 11,17 ( Com um desconto de R$ 10 oferecido pela plataforma) e a opção mais barata de carro no mesmo serviço era R$ 39,45.
Para a segunda corrida,no início da noite,fui do Butantã para Santo Amaro,passando pela Marginal Pinheiros. Próximo das 18h,a capital entra no “horário de pico”,quando qualquer trajeto vira uma longa viagem. O motociclista da 99 afirmou que oferece o serviço "apenas como um bico". Como trabalha na capital e mora em Taboão da Serra,na região metropolitana,"levar um carona é um modo de economizar a volta pra casa".
— Trava a perna em mim e não segura aí atrás não porque eu perco um pouco o balanço,e é perigoso — recomendou o segundo motociclista do dia.
A viagem também levou pouco mais de 20 minutos. Em meio ao mar de faróis vermelhos que vira a marginal durante o trânsito,a única preocupação do condutor era com outras motos,já que corria quase livre pelo corredor. São nesses momentos que o modal mostra suas vantagens,os trechos não são novidade para quem faz o trajeto casa/trabalho,mas passam muito rápido quando é aproveitada a versatilidade da moto. Novamente,há o aspecto financeiro. A viagem custaria R$ 56,20 no “99pop”,mas ficou por R$ 27,40 de motocicleta.
O capacete era da esposa do condutor,mas ganhou o título de capacete de trabalho e não será mais usado por sua cônjuge,contou.
Ao GLOBO,a 99 afirmou que os capacetes oferecidos têm que estar de acordo com o código brasileiro de trânsito. E que a manutenção do equipamento é de responsabilidade do motociclista. Qualquer defeito deve ser notificado à plataforma. A Uber não respondeu sobre as mesmas questões até o fechamento deste texto.
Após duas viagens,o resultado foi mais rapidez para se chegar ao destino final,mas uma leve dor de cabeça devido ao uso constante das buzinas para avisar os motoristas de que as motos estavam passando.