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Do Capão Redondo a Manhattan: Guga Chacra conta o desafio de nadar 27 km no mar em NY com adolescentes da periferia de SP

2025-08-12     HaiPress

O jornalista Guga Chacra nada em NY com adolescentes de projeto social — Foto: Divulgação

RESUMO

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GERADO EM: 11/08/2025 - 12:56

Guga Chacra relata travessia aquática com jovens do Capão Redondo em NY

O jornalista Guga Chacra narra sua experiência ao participar da travessia aquática de 27 km em Nova York com seis adolescentes do projeto social Talentos do Capão,do Capão Redondo,SP. Inspirada na nadadora Rose Pitonof,a travessia promoveu um intercâmbio cultural e esportivo,destacando o potencial transformador do esporte e a conexão entre nadadores de diferentes realidades.

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Foram 27 quilômetros nadados nas águas de Nova York com seis adolescentes de um espetacular projeto social de incentivo à natação em águas abertas na represa de Guarapiranga em São Paulo com o nome de Talentos do Capão,do bairro do Capão Redondo,na periferia paulistana. Começamos em uma marina na rua East 26 em Manhattan,não muito distante das Nações Unidas,e terminamos no píer da praia de Coney Island. É uma travessia chamada Rose Pitonof,em homenagem a uma também adolescente que,em agosto de 1911,fez esse percurso e chegou ao final em meio a celebração de 50 mil pessoas,como descreve texto eternizado nas páginas do New York Times.

O meu privilégio de ter sido convidado para nadar aqui em Nova York ao lado destes nadadores do Capão teve início em um jantar em um restaurante em Higienópolis,onde fui encontrar amigos dos meus tempos de polo aquático no clube Paulistano,em visita a São Paulo. O maitre,Waldeci Gomes,me reconheceu e veio falar comigo. Em vez de perguntar sobre as guerras no Oriente Médio ou de Donald Trump,que são temas abordados por mim tanto na Globonews como aqui nas páginas do GLOBO,veio me relatar do projeto Talentos do Capão,onde o filho dele nadou no passado. Sabia do meu amor pelas águas abertas e maratonas aquáticas,que relato sempre que possível na TV.

Para resumir,os treinadores de natação André e Ana Gomes começaram anos atrás a treinar crianças e adolescentes da região do Capão Redondo em clubes da região e na represa de Guarapiranga. São centenas que aprenderam a nadar com eles e hoje o projeto também envolve outros esportes. Mas são nas águas abertas que eles ganharam destaque em competições no Estado de São e participando de longas travessias como a 14 Bis e a Caraguatatuba – Ilhabela.

Os treinos se dividem entre a represa e as piscinas do Ibirapuera e do Pacaembu,aonde chegam em um ônibus do próprio projeto. Os treinamentos de piscina costumam de ser 6 mil metros por dia e os na represa até mais longos. Apenas para contexto,uma maratona aquática na Olimpíada,como a vencida pela Ana Marcela Cunha em Tóquio,tem 10 quilômetros.

Há cinco anos,um dos apoiadores do projeto,Flavio Yarshen,professor de direito da USP,decidiu patrocinar do próprio bolso a viagem anual de um grupo de adolescentes para conhecer Nova York e participar da travessia Rose Pitonof — Flavio criou um projeto similar ao Talentos do Capão em Botucatu chamado Água Viva com aulas gratuitas de natação para as crianças. Por intermédio do Gomes,o maitre,no começo do ano,fui convidado para participar da travessia agora em agosto. Aqui cabe explicar que,apesar de ser mais conhecido como correspondente internacional,sempre me considerei também um nadador amador.

Apesar de ter me dedicado por anos ao polo aquático no Brasil e aqui na Universidade Columbia nos EUA,sempre nadei águas abertas no Litoral Norte paulista. Mais pelo prazer de estar no mar do que para competir (sou um nadador mediano). Costumo acordar de madrugada e pegar mais de uma hora de metrô duas vezes por semana para ir nadar nas praias de Brighton Beach e Coney Island,inclusive durante o inverno. Mesmo com temperaturas externas negativas,neve e água abaixo de 5ºC,nado no mar de sunga com outros entusiastas do Ice Swimming de Nova York. Mas essa é uma história para outro artigo.

Guga Chacra,os nadadores do projeto Talentos do Capão e seus treinadores — Foto: Divulgação

Voltemos para a travessia Rose Pitonof. Os seis adolescentes se chamam Isabelly,Raisa,Jeniffer,Lucas,Paulo e Mateus. Tem de 13 a 19 anos,com a maior parte na casa dos 15. Comigo e com o Flavio,que também nadou,éramos oito. Fomos divididos em quatro duplas. O meu parceiro foi o Lucas. Nós dois nos revezamos ao longo dos 27 quilômetros,com cada um nadando 30 minutos e descansando 30. Assim,creio que o total nadado por cada nadador foi 13,5 km com ajuda da maré. Cada dupla tinha um barco e um caiaque acompanhando do Urban Swimmers,que organiza essas travessias em Nova York. Ao longo do percurso,quase o tempo todo nadamos ao lado da dupla 100% Capão da Isabelly e do Mateus.

Chegamos em 5 horas,cerca de 10 minutos depois de uma dupla feminina do Talentos do Capão formada pela Raíssa e a Jeniffer. Como todos os outros,duas máquinas de nadar. Braçadas firmes,pernadas em tempo perfeito e garra de campeãs. Nós tivemos uma experiência que praticamente ninguém residente em Nova York tem. Largamos vendo o Empire State Building. Nadamos debaixo de gigantescas pontes,como a Brooklyn Bridge,a mais famosa do mundo. Demos braçadas ao lado do World Trade Center e da Estátua da Liberdade. No fim,em uma travessia iniciada de uma certa forma no Capão Redondo,chegamos à mítica e lúdica Coney Island.

Um dia antes,havia levado todos para treinar nessa praia e na vizinha Brighton Beach,onde também fomos a uma roda gigante. Nunca,em meus 20 anos de Nova York,admirei tanto alguém como os seis adolescentes,seus treinadores André e Ana e o apoiador Flavio. Rose Pitonof ficaria orgulhosa de saber dessa história.

Quando Rose fez a travessia,há exatos 114 anos,ela foi descrita como campeã mundial nas páginas do New York Times. Sozinha,nadou o percurso em nove horas no nado de peito,ou clássico,como se dizia antes. A dupla da Jeniffer e Raísa concluiu o trajeto em pouco mais da metade do tempo – verdade que se revezaram,mas tenho certeza de que cada uma delas terminaria o trajeto nadando individualmente ao redor de 5 horas.

O Brasil tem a maior nadadora de águas abertas da história. A Ana Marcela conquistou múltiplos campeonatos mundiais e uma medalha de ouro olímpica. Teria mais caso a prova de maratona aquática no Mundial fosse de 25 km,sua especialidade,e não de “apenas” 10 km. Conheci a nossa campeã olímpica quando ela veio a Nova York com a Juliana Melhem,sua mulher e preparadora física.

Levei ambas para conhecer o escritório da Globo aqui em Nova York. Desta vez,levei os adolescentes do Capão. Ao ver e conversar com essas pessoas,sinto o quanto o Brasil é capaz de produzir atletas. Não duvido que a Isabelly,a Raísa,a Jeniffer,o Mateus,o Paulo,o Lucas e tantas outras dezenas do Talentos do Capão possam se tornar grandes atletas. Mas o objetivo do André e da Ana talvez nem seja esse e sim o de formar grandes seres humanos. Dos que conheci aqui,tenho certeza de que obtiveram sucesso. Ao mesmo tempo,tenho certeza de que estes adolescentes nunca esquecerão sensação de estar no meio do mar dando braçadas tão longe e tão perto do caos urbano de Nova York.

Quando o assunto é natação no mar,somos todos de uma mesma nação. Vi bem a conexão dos meus amigos,mais velhos,de Coney Island,como a Capri,a Lisa e o Al,com os adolescentes do Capão ao se conhecerem em Brighton Beach. Podiam não falar o mesmo idioma oral,mas todos pertencem ao mesmo lugar – a água,seja ela do Capão Redondo ou de Manhattan.

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